Apagão em São Paulo: árvores não são vilãs, é Prefeitura que faz ‘poda mutiladora’, diz botânico
- Author, Letícia Mori e Luiz Fernando Toledo
- Role, Da BBC News Brasil em São Paulo
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Cinco dias depois da queda inicial de vigor que deixou 2,6 milhões de imóveis sem luz na região metropolitana de São Paulo, tapume de 100 milénio imóveis continuavam sem eletricidade, segundo balanço divulgado pela concessionária Enel, responsável pela distribuição na região.
O ministro das Minas e Virilidade, Alexandre Silveira, afirmou na segunda (14/10), que “50% do apagão foi causado pela queda de árvores”.
A Enel também costuma culpar as árvores. A empresa já havia sido multada neste ano pela Aneel (Filial Pátrio de Virilidade Elétrica) em R$ 165,8 milhões em fevereiro de 2024 por justificação de outro apagão, em novembro de 2023.
O valor, no entanto, não foi pago, porque a empresa contesta a multa na Justiça. No processo, a Enel afirma que não podia prever os danos às redes no início do ano, causados por “ventos e chuvas muito supra do previsto” que levaram a danos à rede “principalmente causados pela queda de árvores”.
Dados da Prefeitura de São Paulo mostram que pedidos de poda ou remoção de árvores foram a 5ª maior justificação de reclamação feita à prefeitura pelo 156 no primeiro semestre de 2024 — e que essas foram as queixas com um dos menores índices de solução.
Murado de 37% das reclamações sobre árvores do 1º semestre ainda estão marcadas uma vez que não resolvidas no sistema.
A obrigação do manejo das árvores é da prefeitura, mas a Enel tem a obrigação contratual de fazer a manutenção das árvores que afetem diretamente o sistema de vigor, ou seja, das árvores estão muito próximas dos fios.
Quando uma árvore cai, a prefeitura não pode fazer a remoção se a Enel não participar fazendo o desligamento dos fios no lugar.
A Prefeitura afirma que tapume de 6 milénio reclamações não puderam ser atendidas porque precisam de mediação da Enel e a empresa não fez os atendimentos. A empresa executou unicamente 1% das podas de árvore em contato com a fiação no primeio semestre de 2014.
A Enel não respondeu aos questionamentos feitos pela BBC News Brasil sobre o tema.
A responsabilização das árvores por apagões é recorrente.
Em novembro do ano pretérito, o governador do Estado, Tarcísio de Freitas, também havia culpado as árvores pela falta de luz em uma situação parecida. “O grande vilão desse incidente foi a questão arbórea”, disse ele à estação.
No entanto, não há uma interdependência entre o número de queda de árvores e a quantidade de pessoas que ficam sem luz.
Ao todo 386 árvores caíram na última sexta-feira, quando se iniciou o apagão, segundo a prefeitura. Em 3 de novembro de 2023, menos imóveis ficaram sem vigor (tapume de 2,1 milhões) sendo que o número de queda da árvores foi 4 vezes maior (foram 1,5 milénio árvores caídas).
Ou por outra, no blecaute de novembro de 2023, a Enel levou 24h para restabelecer a vigor de 60% dos imóveis afetados. Já em 2024, a empresa levou quase o duplo, 42h, para religar a luz de 60% dos clientes, segundo dados da Arsesp (Filial Reguladora de Serviços Públicos do Estado de São Paulo).
O botânico Ricardo Cardim afirma que as árvores não são as vilãs da falta de vigor e que diminuir a arborização da cidade pode aumentar ainda mais o problema.
Se receberem um mínimo de zelo e tiverem a poda feita de maneira adequada, diz ele, as árvores não terão o risco de desabar e afetar o sistema elétrico.
“O problema é a falta de manutenção, de zelo. As árvores caem de doentes, de sofridas, independentemente de evento climatológico”, afirma Cardim, que é responsável do livro Remanescentes da Mata Atlântica: As Grandes Árvores da Floresta Original e Seus Vestígios.
Por outro lado, diz ele, podá-las sem os cuidados necessários e não fazer a substituição das que precisam ser removidas por outras árvores pode piorar muito problemas ambientais uma vez que ilhas de calor e tempestadas intensas.
Estudo do pesquisador Giuliano Locosseli, pós doutor em epidemiologia ambiental, mostra que as árvores em São Paulo são tão vulneráveis à chuva e ao vento por justificação da falta de cuidados e de sua saúde precária.
A pesquisa mostra que, embora a queda de árvores seja maior durante a estação chuvosa, também há muita queda de árvores durante a estação seca por conta a falta de manutenção. “Árvores mal cuidadas caem nas ruas diariamente sem nenhuma justificação climática aparente”, diz o estudo.
Ou seja, o problema não é causado “eventos climáticos imprevistos”, diz Cardim, mas pela falta de manutenção.
E a queda de árvores é totalmente evitável, segundo pesquisadores.
Em São Paulo, no entanto, não existe o mesmo tipo de monitoramento nem a frequência adequada na manutenção, afirma Cardim.
Questionada pela BBC News Brasil, a Prefeitura de São Paulo afirmou que o tempo de espera médio para atendimento dos pedidos de poda ou remoções de árvores teve uma subtracção de 80% entre 2017 e 2024 e que podou 132 milénio árvores até 10 de outubro deste ano.
Já o governo do Estado não voltou a culpar as árvores neste ano. A gestão estadual afirmou que o governador e os prefeitos de cidades afetadas entregaram nesta terça (15/10) uma epístola ao ministro do TCU (Tribunal de Contas da União), Augusto Nardes, solicitando que o órgão tome “as medidas cabíveis para que órgãos federais competentes declarem, com urgência, a mediação” na Enel ou o cancelamento do contrato de licença devido às falhas.
O governo federalista, através de diversas instâncias, prometeu cobrar a Enel e a prefeitura de São Paulo pelos problemas. Mas o Ministério das Minas e Virilidade não respondeu ao pedido de justificação feito pela BBC News Brasil.
A Enel também não respondeu aos questionamentos feitos pela reportagem.
Menos árvores, mais problemas
Tratar as árvores uma vez que “vilãs” e simplesmente retirá-las em vez de fazer uma melhor manutenção pode aumentar os problemas enfrentados pela cidade – inclusive a intensidade das chuvas e temporais, afirma Cardim.
Elas promovem um aumento da vida útil do asfalto por justificação do sombreamento, filtram os poluentes no ar, absorvem o CO², interceptam a chuva da chuva e a radiação do sol, diminuem o risco de enchentes e diminuem as chamadas ilhas de calor.
Ilhas de calor são um fenômeno que acontece em ambientes muito urbanizados onde a falta de vegetação e a subida concentração de edifícios e de concreto faz com que certas áreas fiquem com temperaturas muito mais altas do que a região ao volta.
“Infelizmente, por falta de ensino ambiental, o brasílico ainda não compreendeu que as árvores não são unicamente alguma coisa estético”, afirma Cardim. “Elas têm muitas funções no envolvente urbano.”
As ilhas de calor que aumentam com subtracção da arborização agravam a intensidade de chuvas, ventos e temporais, afirma Cardim.
“Sem as árvores, as ilhas de calor potencializam as tempestades drásticas, a chuva cai toda de uma vez só”, explica o botânico.
Ou seja, com a subtracção da arborização sem substituição da vegetação, os eventos climáticos intensos – que têm se tornado mais comuns em universal por justificação do aquecimento global – podem permanecer ainda piores, argumenta Cardim.
Hoje, as áreas urbanizadas do município que mais sofrem com ilhas de calor e outros problemas gerados pela falta de arborização são as regiões mais pobres da cidade, afirma o botânico.
Enquanto um bairro superior uma vez que Eminente de Pinheiros tem uma cobertura vegetal de 41%, bairros uma vez que pobres uma vez que Arthur Alvim e Brás têm uma cobertura vegetal de 12% e 5%, segundo dados do Mapa da Desigualdade.
‘Poda mutiladora’
A poda mal feita é um dos principais fatores que adoecem as árvores em São Paulo, afirma Ricardo Cardim. Podas drásticas desequilibram a despensa da árvore e a deixam vulneráveis a doenças e insetos predadores.
Cardim explica que a poda das árvores é muito necessária e precisa ser feita com maior periodicidade e maior zelo técnico, da forma e na estação correta, respeitando a idade do galho.
“A prefeitura poda pouco, com pouca periodicidade, aí tem que podar os galhos já muito crescidos, grandes”, diz Cardim. “Da forma uma vez que é feita pela prefeitura, a poda é mutiladora. Ela deixa feridas que não cicatrizam fácil, abre espaço para a ingresso de cupins e doenças. A árvore adoece e depois de uns anos pode desabar.”
A Prefeitura afirma em seu site que os serviços só são realizados com avaliação técnica prévia.
“Recebida a solicitação, um engenheiro agrônomo da Subprefeitura vai até o lugar onde se encontra a árvore para realizar uma avaliação técnica e a emissão de laudo para poda ou remoção, dependendo do estado da árvore.”
Outro fator é a pavimentação e compactação do solo ao volta das raízes das árvores, o que afeta sua capacidade de sorver nutrientes e a firmeza da vegetal, porque as raízes não têm espaço para crescer.
As árvores também passam sede, porque a absorvição de chuva acontece através da raiz. Quando o canteiro é concretado, não há infiltração de chuva e o solo fica sequioso mesmo que haja chuva.
Muitas árvores também tem suas raízes cortadas e danificadas em obras na calçadas ou crescem tortas por falta de escoras.
“A geração de equipes com capacidade técnica para fazer a poda e o manejo correto não é uma coisa mirabolante”, defende Cardim. “É, inclusive, milhares de vezes mais barato e muito mais plausível do que o funeral dos fios, que custaria bilhões, que é inviável.”
Remoção feita da forma correta
Árvores que já têm risco de queda, afirma Cardim, precisam sim serem removidas, mas isso também precisa ser feito com mais zelo e pensando no porvir.
Segundo ele, a prefeitura tem feito a substituição das árvores com risco por árvores muito jovens ou por árvores anãs, que nunca vão crescer até o tamanho das anteriores e por isso não vão trazer os mesmos benefícios.
“Isso quando não simplesmente cimentam a terreno depois de tirar a árvores, uma vez que se nunca tivesse tido zero ali”, afirma ele.
“A prefeitura de São Paulo sequer sabe quantas árvores existem na cidade e qual o seu estado de saúde”, diz.
O último levantamento feito pela Secretaria do Meio Envolvente sobre árvores é de 2017 e levava em consideração somente as árvores no sistema viário, ou seja, as árvores próximas às ruas e avenidas.
Eram 650 milénio – não há informações sobre quantas delas estão doentes, quantas caíram ou foram substituídas desde portanto.
Questionada pela BBC News Brasil, a prefeitura de São Paulo afirmou que “o reforço da Prefeitura de São Paulo no trabalho de poda de árvore em toda a cidade minimizou os impactos da tempestade ocorrida na última sexta-feira”.
Segundo a prefeitura, as ocorrências de queda de árvores na sexta foram 386, em confrontação com 1.500 em um incidente em novembro do ano pretérito, quando as chuvas e o vento foram menos intensos.
A prefeitura afirmou que o tempo de espera médio para atendimento dos pedidos de poda ou remoção de árvores feito por cidadãos caiu de 507 dias em 2017 para 54 em 2024, uma subtracção de 80%.
A gestão municipal disse ainda que “realizou a poda de 132.809 árvores em toda a cidade de janeiro a 10 de outubro deste ano, uma média de 465 árvores por dia”.
A Prefeitura, no entanto, não respondeu sobre o que tem feito para cuidar da saúde das árvores, sobre a sátira de que podas ruins têm deixado as árvores vulneráveis a fungos e doenças, sobre a substituição de vegetais doentes ou sobre planos para ampliar a arborização na cidade.
Também não explicou se faz podas preventivas com base em uma avaliação própria ou se somente faz as podas atendendo a chamados dos moradores. E não deu uma explicação para o indumentária de não possuir dados oficiais atualizados em relação à quantidade e saúde das árvores na cidade.
A Enel não respondeu aos questionamentos feitos pela BBC News Brasil até a publicação desta reportagem.
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