Bets: por que você quase sempre vai perder moeda com apostas esportivas, segundo a matemática
- Author, Daniel Gallas
- Role, Da BBC News Brasil em Londres
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“Eu conheço uma pessoa que vive só de bets”, “eu vejo muito futebol e quase sempre acerto o vencedor”, “é só estudar bastante, que você vai conseguir lucrar”.
Essas são frases comuns ditas hoje em dia em conversas de bar, redes sociais ou até mesmo em canais de internet dedicados a apostas esportivas.
Mas a verdade do mundo das apostas é muito dissemelhante, segundo matemáticos e especialistas que estudam o fenômeno.
A BBC News Brasil conversou com especialistas que dedicaram mais de 20 anos a pesquisar o tópico.
A epílogo deles é que: sim, teoricamente é provável lucrar moeda com apostas esportivas no longo prazo. No entanto, a tarefa é tão difícil que só estaria ao alcance de pouquíssimas pessoas.
A grande maioria inevitavelmente vai perder moeda se continuar apostando. É só uma questão de tempo.
“Se você não tem fortes habilidades matemáticas e nunca parou para erigir modelos matemáticos para vencer as casas de apostas, você não vai conseguir. Você não vai lucrar moeda a longo prazo a menos que trabalhe duro. E trabalhar não significa observar a muitas partidas de futebol ou ter conhecimento do jogo. Trabalhar duro significa realmente entender as probabilidades”, disse o matemático David Sumpter à BBC News Brasil.
Sumpter é professor de matemática na universidade de Uppsala, na Suécia, fundador de uma empresa que trabalha com matemática e futebol e responsável do livro Soccermatics: Mathematical Adventures in the Beautiful Game (“Soccermatics: Aventuras matemáticas no jogo bonito”, em tradução livre).
Ele diz que a habilidade matemática necessária para derrotar as casas de apostas é tamanha, que um apostador que eventualmente consiga isso lucraria mais vendendo seu conhecimento matemático no mercado — inclusive para as próprias casas de apostas — ou fundando sua própria empresa de estatísticas.
Outro profissional, o responsável Joseph Buchdahl, diz que a maioria dos apostadores são uma vez que “macacos jogando dardos” — ou seja, contam exclusivamente com pura sorte em suas apostas.
Recentemente ele publicou uma estudo em que concluiu que há apostadores com técnicas tão avançadas que são capazes de vencer o mercado no longo prazo. No entanto, eles ainda são casos raros.
“As apostas continuam sendo uma competição extremamente difícil de vencer, onde a margem que uma morada de apostas impõe — além do entrada a alguns dos melhores analistas do setor — significa que exclusivamente uma pequena minoria terá sucesso a longo prazo”, escreveu.
No Brasil, a explosão das “bets” levou o governo federalista a anunciar um pacote de medidas para regularizar o mercado.
As casas de apostas precisarão remunerar uma taxa para poderem operar, e o governo ainda promete tentar bloquear o uso de cartões de crédito para apostas.
Segundo o ministro da Rancho, Fernando Haddad, também haverá um esforço para restringir a publicidade do setor, uma vez que já ocorre com bebidas alcoólicas e cigarros.
Mas será que é mesmo tão difícil assim? Por quê?
Uma vez que funcionam as apostas
Para lucrar das casas de aposta, primeiro é preciso entender o que são as “odds”, que traduzido para o português significa “chances”.
As odds expressam quanto cada apostador ganhará caso sua aposta seja vencedora. Há algumas formas de se expressar uma odd. Os formatos mais comuns são as decimais e as fracionárias.
Uma odd fracionária de 7/4 indica que para cada 4 reais apostados, o apostador terá um retorno de 7 reais (além dos 4 reais apostados) em caso de acerto. Ou seja, o retorno totalidade será de 11 reais.
A mesma odd pode brotar uma vez que decimal. Uma odd decimal de 2,75 indica que o retorno será 2,75 vezes o valor apostado. Ou seja: uma aposta de 4 reais que é vencedora com essa odd dá um retorno de 11 reais (4 vezes 2,75 é igual a 11). Repare que uma odd decimal de 2,75 é a mesma coisa que uma odd fracionária de 7/4.
A odd ajuda também a entender matematicamente o quão provável um evento é de sobrevir na visão da morada de apostas — um pouco divulgado uma vez que verosimilhança implícita.
A verosimilhança implícita é o inverso da odd decimal. Para descobrir o inverso, divide-se 1 pela odd decimal.
No exemplo supra, uma aposta que pague odds de 2,75 tem 36% de chances de ser vencedora (1 dividido por 2,75 é igual a 0,36, ou seja, 36%). Pode-se concluir também que essa aposta tem 64% de chances de ser perdedora.
Quem ganha: apostador ou morada de apostas?
Lucrar eventualmente uma aposta ou outra é perfeitamente provável e provável.
A aposta esportiva é muito dissemelhante de uma loteria, em que as probabilidades de proveito são remotas. As chances de se lucrar na Mega-Sena, por exemplo, são de 0,00000002%.
O repto maior nas apostas esportivas é lucrar consistentemente no longo prazo.
E não basta exclusivamente lucrar mais vezes do que perder. É provável ter supino índice de acertos, e ainda assim perder moeda.
É o caso de quem sempre aposta nos favoritos. O retorno financeiro para cada aposta vitoriosa é muito pequeno, já que as odds dos favoritos são sempre baixas. E pior que isso: exclusivamente uma aposta perdedora é suficiente para destruir todos os ganhos com várias vencedoras.
Digamos que uma pessoa aposte 100 reais sempre em um predilecto que pague uma odd de 1,1. Se em dez apostas, ela convencionar nove — um índice supino de acertos, de 90% — ela ganhará 90 reais. Mas ainda assim seu resultado final será um prejuízo de 10 reais — já que terá perdido 100 reais na única aposta perdedora.
Também apostar nos azarões não é sustentável. O apostador pode lucrar uma grande soma de moeda apostando em alguém que tinha poucas chances e pagava odds enormes — mas seus ganhos serão anulados com a provável guião de todos os outros azarões nos quais também apostou.
Para lucrar consistentemente, é preciso ter um estabilidade — calculando-se exatamente quanto deve ser alocado em cada aposta de convénio com as probabilidades relacionadas ao jogo.
Mas conseguir isso é muito difícil, uma vez que mostram os exemplos aquém.
Primeiro inimigo dos apostadores: margem das casas de aposta
As odds das apostas são decididas pelas casas de apostas.
E oriente é um dos primeiros obstáculos para os apostadores — porque as casas sempre embutem nas odds as suas margens de proveito (também chamadas de “vigorish”).
Uma forma simples de calcular a margem é somando a verosimilhança implícita (o inverso) de todas as odds que a morada paga para uma determinada aposta.
Matematicamente, essa soma deveria dar 100%. Por fim, um jogo só pode terminar com vitória, guião ou empate.
Mas em casas de apostas, essa soma sempre é maior que 100%. E o excedente é justamente a margem da morada de apostas.
Vamos pegar um exemplo: um jogo entre Vasco e Palmeiras. As odds de uma morada de apostas para esse jogo podem ser:
- 4,410 para vitória do Vasco
- 3,740 para empate
- 1,787 para vitória do Palmeiras.
As probabilidades implícitas (inverso das odds) para esse jogo são: 22,68% de vitória do Vasco, 26,74% de empate e 55,96% de vitória do Palmeiras. A soma dessas probabilidades é 105,38%.
A margem da morada é, portanto, de 5,38% — o excedente. Esse é um dos grandes inimigos dos apostadores.
Imagine um apostador que fosse repartir seu moeda proporcionalmente em todos os resultados no exemplo supra:
- 22,68 reais em vitória do Vasco
- 26,74 reais em empate
- 55,96 reais em vitória do Palmeiras.
O valor totalidade de sua aposta é 105,38 reais.
Uma vez que ele apostou proporcionalmente em todos os resultados possíveis, é de se esperar que ele receba exatamente o totalidade que apostou — qualquer que seja o resultado do jogo.
Mas seu retorno real seria:
- Em caso de vitória do Vasco: 100,01 reais (22,68 reais vezes odds de 4,410)
- Em caso de empate: 100,01 reais (26,74 reais vezes odds de 3,740)
- Em caso de vitória do Vasco: 100,00 reais (55,96 reais vezes odds de 1,787)
Em todos os cenários, o retorno seria negativo — com perda de 5,38 ou 5,37 reais.
Ou seja: as casas de apostas não estão pagando exatamente o proporcional às probabilidades de um evento sobrevir. Elas estão pagando um pouco menos.
Segundo inimigo dos apostadores: lei dos grandes números
No longo prazo, esse “pouco menos” significa prejuízos enormes para os apostadores e ganhos grandes para as casas de apostas.
É o que os matemáticos chamam de a Lei dos Grandes Números — que diz que quanto mais uma experiência for repetida, mais ela vai se aproximar do seu valor esperado (as probabilidades esperadas).
Essa lei matemática é a base do padrão de negócios bilionários da indústria de cassinos.
Em 10 ou em 100 tentativas, um apostador pode até transpor no lucro — mesmo que as odds não lhe sejam favoráveis. Mas depois de um determinado patamar, digamos 1,000 ou 10,000 apostas, invariavelmente o resultado observado começa a caminhar em direção às odds do jogo.
No caso dos cassinos, um jogo de blackjack (ou vinte-e-um) tem as seguintes odds, em média: 42% de chances de vitória do apostador, 9% de chances de empate e 49% de chances de guião.
É perfeitamente provável jogar algumas partidas de blackjack e transpor com um bom lucro da mesa. Essa ilusão de vitória é justamente o que atrai os apostadores, já que 42% de chances de lucrar pode não parecer pouca coisa.
Mas ao longo de múltiplas apostas e muito tempo (às vezes meses ou anos), o apostador certamente sairá perdendo. Por trás de cada pessoa que sai com uma pequena riqueza de um cassino, há mais pessoas que saem com os bolsos vazios.
O mesmo acontece com as apostas esportivas, já que — uma vez que vimos supra — as odds jogam sempre contra o apostador. Por fim, a odd de uma morada de aposta é sempre um pouco subordinado à verosimilhança de o evento sobrevir.
Uma vez que lucrar das casas de apostas
Para lucrar moeda no longo prazo, é preciso derrotar as casas de apostas com consistência.
E a forma de derrotá-las é possuindo odds melhores do que elas. Ou seja: saber quando a morada de apostas está estimando inexacto as probabilidades de um jogo — e portanto está pagando demais por um dos resultados.
Vamos a outro exemplo. Digamos que um jogo entre São Paulo e Corinthians, as odds de uma morada de aposta sejam:
- 2,3 para vitória do São Paulo
- 2,95 para empate
- 2,62 para vitória do Corinthians.
As probabilidades implícitas estimadas pela morada são: 43,48% de vitória do São Paulo, 33,90% de empate e 38,17% de vitória do Corinthians.
Se o apostador tiver estimativas mais precisas do que essas que mostrem, por exemplo, que as chances de vitória do São Paulo são maiores do que 43,48% (digamos 45% ou 50%), ele pode apostar mais moeda nesse resultado.
Mas não basta fazer isso em exclusivamente um jogo. É preciso conseguir estimativas mais precisas do que a morada de apostas consistentemente ao longo de diversas apostas — satisfazendo a Lei dos Grandes Números.
Chegar a essas estimativas mais precisas é justamente o maior repto — e é onde as casas de aposta levam enorme vantagem em relação aos apostadores.
Uma vez que as casas de apostas fazem para lucrar
Um argumento generalidade de pessoas que assistem a muitos jogos de futebol é que elas entendem mais do esporte do que a maioria das pessoas — portanto estão mais propensas a lucrar.
Mas o conhecimento sobre futebol é quase irrelevante no mundo das apostas, dizem os especialistas.
“O conhecimento do jogo já está marchetado nas probabilidades. Por exemplo, um jogo pode receber 10 milénio apostas. Isso significa que são 10 milénio pessoas que sabem um pouco sobre futebol e o conhecimento delas está marchetado nas odds. Não é que você está jogando contra uma outra pessoa. Você está jogando contra 10.000 pessoas que acham que entendem de futebol. Às vezes, essas 10.000 pessoas cometem grandes erros, mas normalmente isso não acontece”, diz David Sumpter.
O pulo do gato para se lucrar moeda com apostas não é saber de futebol — é saber matemática.
“Você tem que inaugurar com as probabilidades. É isso que as pessoas esquecem. Elas pensam ‘eu preciso entender muito sobre futebol’. Mas ela precisa inaugurar sabendo muito sobre probabilidades. E a maioria não entende muito sobre probabilidades de futebol, uma vez que as odds são definidas e uma vez que tentar vencê-las.”
A mina de ouro das apostas são os modelos matemáticos.
Modelos são equações matemáticas que usam dados da verdade para fazer previsões. Eles partem de dados estatísticos do pretérito (as entradas ou inputs do padrão) — uma vez que gols marcados e sofridos, por exemplo — para fazer previsões futuras sobre qual time tem mais chances de vencer.
E é nesse ponto que entra a subida tecnologia para estabelecer as odds.
As casas de apostas que existem no mercado usam odds que são geradas por companhias e profissionais altamente especializados. Essas companhias contratam matemáticos e usam alguns dos modelos mais avançados no mercado.
As odds desses matemáticos especializados são difíceis de serem batidas. E em cima dessas odds, as casas de apostas ainda colocam a sua margem, dificultando ainda mais a tarefa.
“A tecnologia vem melhorando muito a cada ano. A cada dia, há novos modelos sendo usados, novos algoritmos, novas tecnologias. Há 20 anos detrás, provavelmente era muito mais fácil lucrar das casas de aposta do que é hoje”, diz Joseph Buchdahl.
Buchdahl dá o exemplo de um padrão matemático que foi usado durante décadas por apostadores, garantindo muitos lucros no pretérito: o padrão Dixon-Coles. Esse padrão levava em consideração, entre outros fatores, os gols marcados e sofridos por equipes nos últimos jogos para tentar prever o resultado de uma partida.
“A tecnologia mudou. Se você fosse tentar usar o padrão Dixon-Coles hoje em dia, você não teria chance alguma contra as casas de aposta.”
Nos últimos anos, o padrão da voga é o de gols esperados (cuja {sigla} é xG). Esse padrão é muito mais sofisticado: ele calcula a verosimilhança de chutes virarem gols. Ele é muito mais intenso no uso de dados, pois requer estatísticas mais completas sobre o que aconteceu exatamente nas partidas recentes das equipes.
Uma pessoa que faz uma aposta pode pensar que está exclusivamente competindo contra outros apostadores ou com a morada de apostas. Mas na verdade ela está enfrentando uma luta muito maior.
Buchdahl afirma que a maioria dos apostadores profissionais sequer usa morada de apostas comuns — que são encaradas por eles uma vez que secção da indústria do entretenimento.
Os profissionais preferem usar as chamadas “betting exchanges”, que são uma espécie de bolsa, onde apostadores podem produzir suas próprias odds e apostar uns contra os outros. É nesses espaços — usados por apostadores com grande intensidade de sofisticação — que os melhores modelos matemáticos costumam ser empregados.
E o setor está ficando cada vez mais competitivo.
Com a explosão da lucidez sintético e do estágio de máquina, Buchdahl diz que a modelagem matemática para apostas está praticamente virando “uma corrida armamentista” — tamanho é o nível de sofisticação dos novos modelos.
“Há muito mais dados no futebol hoje em dia. Há estatísticas de jogadores, estatísticas de posse, estatísticas de passes. É ridículo quanto oferecido temos hoje. Se você tem entrada a esses dados, você pode inaugurar a jogá-los no seu padrão e ver se ele melhora. Por um tempo, você pode até conseguir ter um padrão melhor e lucrar qualquer moeda. Mas logo vem alguém e consegue superar você”, diz Buchdahl.
“É uma vez que um esporte profissional, por um tempo Djokovic, Federer e Nadal eram os melhores [no tênis masculino]. Agora eles estão sendo substituídos.”
A estratégia perfeita. Mas ela funciona?
Há diversas modalidades de apostas disponíveis: apostar em cartões amarelos e gols específicos ao longo da partida, por exemplo. Também é provável usar “handicaps”, que são ajustes nas odds para torná-las mais favoráveis ao apostador.
Outrossim, há diferentes estratégias. Muitos apostadores costumam “tapulhar” suas apostas, que é fazer uma novidade aposta para mitigar o risco de uma aposta original.
Mas os matemáticos alertam que mesmo essas modalidades e estratégias não são suficientes para lucrar das casas de apostas no longo prazo — mesmo que algumas delas sirvam para melhorar as chances do apostador.
Mas existe uma uma estratégia que, surpreendentemente, é sempre bem-sucedida em qualquer cenário — pelo menos matematicamente falando. Trata-se da arbitragem (também chamada de “aposta certa” ou “surebet”).
Na teoria, ela é perfeita, mas na prática, ela não costuma funcionar no longo prazo — e isso exclusivamente reforça uma vez que as casas de apostas são praticamente imbatíveis para a maioria das pessoas.
A estratégia da arbitragem envolve buscar odds diferentes para um mesmo evento em casas de apostas diferentes. Se as probabilidades (inversos das odds) dessas casas de apostas somadas forem inferiores a 100%, existe oportunidade para arbitragem. Ou seja: o apostador vai lucrar em qualquer cenário.
Vamos a um exemplo. Digamos que em uma partida entre Flamengo e Grêmio, seja provável encontrar as seguintes odds em casas de apostas diferentes:
- Mansão de apostas 1: vitória do Flamengo, odd de 2,5
- Mansão de apostas 2: empate, odd de 3,6
- Mansão de apostas 3: vitória do Grêmio, odd de 3,4.
É fundamental buscar odds em casas de apostas diferentes. Quando as odds são tiradas de exclusivamente uma morada de apostas, a soma das probabilidades é sempre superior a 100% — uma vez que vimos no exemplo de Vasco e Palmeiras. E o excedente é a margem de lucro da morada.
Mas nesse exemplo, com odds de casas diferentes, ela é subordinado. A soma das probabilidades nesse caso é 97,19% — 40% de chances de vitória do Flamengo, 27,78% de chances de empate e 29,41% de chances de vitória do Grêmio.
Para prometer um retorno em qualquer cenário, é preciso espalhar as apostas proporcionalmente. A fórmula para essa distribuição é: dividir a verosimilhança de o evento sobrevir pela soma das probabilidades totais, e multiplicar tudo pelo valor apostado.
No caso de 100 reais, eles seriam distribuídos da seguinte forma:
- Apostar no Flamengo: 40% / 97,19% x 100 reais = 41,16 reais
- Apostar em empate: 27,78% / 97,19% x 100 reais = 28,58 reais
- Apostar no Grêmio: 29,41% / 97,19% x 100 reais = 30,26 reais
Os retornos para cada cenário seriam:
- Vitória do Flamengo: 41,16 reais x odd de 2,5 = 102,90 reais
- Empate: 28,58 reais x odd de 3,6 = 102,89 reais
- Vitória do Grêmio: 30,26 reais x odd de 3,4 = 102,88 reais
Uma vez que foram gastos 100 reais nessa aposta, existe um retorno guardado de muro de 2,89%.
Essa é uma margem bastante subida para uma aposta sem riscos.
Se parece um cenário bom demais para ser verdade, é porque é exatamente isso.
Na prática, há dois obstáculos grandes para arbitragem. O primeiro é que encontrar odds que possibilitem a arbitragem nem sempre é fácil. As próprias casas de apostas ajustam suas odds em tempo real de convénio com mudanças promovidas por suas rivais — justamente para dificultar que essas oportunidades surjam.
“A menos que você tenha um bot (robô) que esteja fazendo as apostas simultaneamente, sempre há o transe de que uma odd possa mudar antes que você consiga prometer as odds finais”, diz Buchdahl.
O segundo tropeço são as próprias casas de aposta, que monitoram esse tipo de atividade.
“As casas de apostas não toleram vencedores. E elas certamente não toleram apostas de arbitragem porque elas argumentam que é ruim para seus negócios. E mal eles suspeitarem que você está fazendo isso, eles fecharão sua conta”, diz Buchdahl.
A arbitragem não é uma atividade proibido, mas as casas de apostas se reservam o recta de não atenderem clientes e suspenderem apostas — o que está explícito nos termos e condições.
Mas é justo que casas de apostas possam barrar clientes?
“A morada de apostas não é obrigada a fazer negócios com você. Se eles consideram que você não é lucrativo para o negócio deles, eles não vão o admitir uma vez que cliente. É mal o capitalismo funciona”, afirma Buchdahl.
David Sumpter diz que no Reino Unificado há até mesmo sites especializados em detectar e realizar apostas de arbitragem. Mas as margens são pequenas e muitas contas acabam bloqueadas depois de poucas rodadas, mal as casas de apostas identificam essa atividade.
Buchdahl não acredita que arbitragem seja uma estratégia sustentável no longo prazo justamente por razão desse jogo de gato e rato com as casas de apostas. Para ser bem-sucedido, diz ele, seria necessário ter contas em muro de dez casas de apostas diferentes — e seria necessário transfixar novas contas com nomes diferentes a cada suspensão.
Quem já conseguiu lucrar das casas de apostas
Os especialistas apontam as dificuldades de se conseguir lucrar das casas de apostas. Mas eles acreditam que ainda assim é provável. Inclusive isso já foi feito.
Um caso notório é o do britânico Matthew Benham, formado em Física pela universidade de Oxford no final dos anos 1980. Depois de uma passagem pelo mercado financeiro, Benham resolveu desenvolver modelos matemáticos para fazer apostas esportivas.
Ele aperfeiçoou o padrão Dixon-Coles (citado supra nesta reportagem) e fundou a SmartOdds, uma empresa pioneira de pesquisa estatística voltada para apostadores profissionais. Ele também virou investidor na Matchbook, um site de apostas pioneiro no formato de “betting exchange”.
O sucesso de seus modelos foi tão grande que Benham virou milionário — ao ponto de comprar o seu clube de futebol do coração, o Brentford. Desde que Benham assumiu o controle do clube, o Brentford voltou à primeira partilha do bilionário futebol inglês.
Para matemáticos, a história de Benham ilustra que os maiores lucros no mundo das apostas esportivas não estão com os apostadores — mas sim nas casas de apostas e nos matemáticos que conseguem gerar um conhecimento que é valioso.
Sumpter e Buchdahl seguiram esse exemplo. Eles próprios já contemplaram no pretérito a teoria de se tornarem apostadores profissionais, mas logo perceberam que havia outros caminhos mais lucrativos.
Ambos escreveram livros e artigos sobre apostas esportivas e usam seu conhecimento — e não apostas — para lucrar moeda.
Sumpter fundou uma empresa, a Twelve Football, que fornece consultoria matemática a diversos clubes de futebol no mundo, inclusive na Premier League inglesa.
Buchdahl criou um site em que fornece dados que informam modelos estatísticos usados por apostadores. Ele ganha moeda com anúncios em seu site. Outrossim, muitos dos artigos que ele escreve são publicados em uma seção educativa do site da Pinnacle, uma morada de apostas famosa por suas odds sofisticadas.
“É provável lucrar moeda criando modelos matemáticos e eu conheço pessoas que fizeram isso e ganharam moeda assim”, diz Sumpter.
“Mas logo eles acabam indo trabalhar para casas de apostas ou até mesmo viram donos de casas de apostas. Você pode lucrar muito mais moeda e ter uma manancial de renda regular dessa forma.”
A vida de um apostador profissional, segundo ele, envolve não só altos riscos, mas também custos enormes. É preciso investir pesadamente em instrução e, hoje em dia, em poder computacional. Outrossim, é preciso ter muito capital para realizar as apostas. Considerando-se um retorno médio de 3% — uma meta difícil até para profissionais — é preciso ter 1 milhão de reais para obter um retorno de 30 milénio.
Essas dificuldades fazem com que a maioria das pessoas que querem se tornar apostadores profissionais acabem desistindo depois de um tempo. Buchdahl calcula que a maioria das pessoas percebe isso depois de muro de milénio apostas.
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