Cresce a oferta de vinhos meio secos no Brasil .
Entre as muitas verdades, mitos e polêmicas que giram em torno do vinho, uma delas refere-se ao texto de açúcar. Cada dia o Brasil importa mais vinhos na categoria meio sequioso, ou seja, que contém um nível de açúcar residual maior do que o vinho sequioso. Muitos enófilos e consumidores desconfiam da qualidade desses vinhos. No entanto, pessoas que estão iniciando no mundo do vinho ou que têm dificuldades com sabores ácidos ou amargos acabam gostando desses rótulos, geralmente macios, redondos e fáceis de tomar.
Uma das críticas mais comuns é a de que o açúcar encobre defeitos. É indumentária. O açúcar atenua gostos mais salientes uma vez que o ácido e o amargo, deixando a sensação de estabilidade na boca. Outra suspicácia é se o açúcar residual é procedente, da própria uva, ou se é açúcar de cana adicionado. Os vinhos meio secos podem ter açúcar adicionado (isso acontece geralmente com o vinho de mesa), mas também podem ter o açúcar da própria uva, que sobrou no vinho depois de levedação.
A lei
A legislação brasileira prevê a seguinte classificação para os níveis de açúcar (glicose e frutose) de um vinho:
Sedento: o vinho tem até 4 g de açúcar residual por litro.
Meio Sedento ou Demi-Sec: o vinho tem entre 4,1 g e 25 g de açúcar residual por litro.
Suave ou Gulodice: de 25,1 a 80 g de açúcar residual por litro.
Mais ou menos gula
Sob o ponto de vista de sabor, o vinho meio sequioso pode se parecer muito com o sequioso ou mostrar-se mais a caminho do gula. Essa variação ocorre porque a filete da quantidade de açúcar para esses vinhos é ampla.
Quanto mais próximo estiver o açúcar residual dos 4 g/l, fronteira entre o vinho sequioso e o meio sequioso, mais o vinho parecerá sequioso, a sensação do açúcar será menor ou praticamente imperceptível. Provo vinhos todos os dias. E já provei meio secos que pensei serem secos, pela taxa de açúcar ultrapassar muito pouco os 4% e também pelo índice de acidez que, mais saliente, reduz a sensação da mel.
Por outro lado, quanto mais próxima a taxa de açúcar do vinho estiver dos 25g, risco divisória do meio sequioso e o gula, mais a sensação de mel será saliente no paladar.
Porquê os contrarrótulos não trazem a informação dos teores de açúcar dos vinhos meio secos, muitos consumidores ficam receosos na hora de comprar uma garrafa com essa classificação. E o vinho acaba sendo visto com suspicácia. A saída é pedir auxílio do sommelier da loja ou mercado, para obter essa informação.
Lei europeia
Na Europa a legislação é dissemelhante e muitos vinhos que lá são rotulados uma vez que secos cá entram uma vez que meio secos. Cada país tem a sua legislação específica, mas, pela regra universal da OIV (Organização Internacional da Vinha e do Vinho) o vinho é considerado sequioso com até 4 g de açúcar por litro, uma vez que no Brasil. No entanto, existe uma leitura dissemelhante para os vinhos que ultrapassam essa risco. Essa leitura estabelece uma relação direta entre o açúcar residual e a acidez.
Por ela, um vinho será considerado sequioso com até 9 g de açúcar residual, desde que a acidez (ácido tartárico) desse vinho apresente uma diferença de pelo menos 2 g/l com relação ao texto de açúcar. Assim, um vinho com 9g/l de açúcar residual será considerado sequioso se tiver pelo menos 7 g/l de ácido tartárico.
Já provei, por exemplo, um Alvarinho considerado sequioso em Portugal e cá foi rotulado uma vez que meio sequioso. Alguns Amarones de bons produtores também são rotulados uma vez que meio secos.
Vinhos fáceis
O indumentária é que os vinhos meio secos costumam ser a porta de ingressão para muitas pessoas que estão iniciando no mundo dos vinhos. Eles são macios, redondos, fáceis de tomar. Eu mesmo comecei a tomar vinho suave, feito em vivenda pelo meu pai. Minha mãe adorava os mais docinhos. Já adulto, eu levava vinhos secos quando ia visitar minha mãe e ela, diabética, acrescentava algumas gotas de adoçante ao seu copo. Sacrilégio? Ela bebia, gostava, e irradiava felicidade.
É procedente que as pessoas, à medida que avançam no mundo do vinho, migram para os secos. Faz secção da evolução do processo. Mas conheço gente que bebe vinhos meio secos e meio doces há décadas e não abre mão dele.
Beba o que gostar
Cada um faz as suas escolhas. A pessoa está bebendo vinho. O importante é que seja um vinho de qualidade, com açúcar residual da própria uva, muito feito, aprazível. Não tem uma máxima que diz que o melhor vinho é aquele que a gente gosta? Pois, cada que faça suas escolhas e seja feliz com aquilo que gosta. Saúde.
Provei essa semana um vinho meio sequioso aprazível, macio, gostoso de tomar, com um açúcar residual quase imperceptível. Divido com vocês as notas da prova:
Valle dos Barris 2022 – Frasqueira de Palmela – Vinho Regional Península de Setúbal – Portugal
Uva Castelão. Passagem de quatro meses por barricas de roble. Texto alcoólico de 13%. Cor vermelho rubi. Aromas de frutas vermelhas, framboesas, amoras; de especiarias doces, um toque floral. Fresco e macio em boca, rotundo, fácil de tomar. Harmoniza muito com fiambres, queijos de media estrutura, massas com molhos de tomate e de mesocarpo, galeto, carnes grelhadas e assadas, bacalhau de forno. (Bistek).
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