É preciso saber manifestar não para tarefas que sobrecarregam – 01/10/2024 – Lorena Hakak
Nesta semana aconteceu no Insper o 5° Encontro da Sociedade de Economia da Família e do Gênero organizado pelo GeFam. Esse encontro tem sido um importante espaço para a troca de ideias e discussão de trabalhos entre pesquisadores brasileiros e estrangeiros. As mulheres foram 70% dos palestrantes no encontro. Ou por outra, a participação de professores e pesquisadores estrangeiros, principalmente latino-americanos, tem desenvolvido ano a ano, atingindo 34% dos palestrantes.
Uma novidade foi a sessão de mentoria com alunos de várias regiões do Brasil, 35% provenientes do Setentrião e do Nordeste. O evento contou ainda com a participação de duas renomadas pesquisadoras internacionais da espaço, Marianne Bertrand e Lise Vesterlund.
A palestra de Lise Vesterlund, baseada em seu livro “The No Club”, ainda sem tradução para o português (em coautoria com Linda Babcock, Brenda Peyser e Laurie Weingart), abordou uma vez que as mulheres acabam aceitando tarefas que as sobrecarregam, mas não contam para a progressão da curso, o que as autoras chamam de non-promotable tasks (NPT). Isso acontece tanto no mundo corporativo uma vez que na ateneu.
Tarefas uma vez que organização das festas da firma, solução de conflitos entre colegas de trabalho ou participação em comitês de contratação são alguns exemplos. Elas são importantes, mas são menos visíveis dentro das empresas. Entretanto, atividades uma vez que o desenvolvimento de um novo resultado ou o fechamento de um grande negócio são visíveis porque estão diretamente ligadas aos objetivos das empresas. Lise apresenta estudos que mostram que as mulheres acabam aceitando mais NPT do que homens. A questão é que precisamos aprender a manifestar não.
Outro ponto levantado por Lise foi a diferença na alocação de tarefas às mulheres no início de suas carreiras. As mulheres tendem a ser atribuídas a tarefas que as tornam invisíveis aos olhos de quem vai determinar pela progressão de suas carreiras. Essa diferença na alocação de tarefas promove um diferencial de salário que começa pequeno, em torno de 4% no primeiro ano, porém vai aumentando ao longo do tempo, atingindo dois dígitos.
Chefes e supervisores precisam valorizar também as habilidades de seus funcionários para evitar essa diferença na alocação de tarefas. Uma provável solução seria sortear a alocação de tarefas entre novos funcionários para evitar qualquer tipo de viés implícito. Esse objecto foi abordado por mim na pilar “Preconceitos são mais fortes do que pensamos: o viés inconsciente”.
No último dia do encontro tivemos a palestra da economista Regina Madalozzo. Ela foi uma das primeiras economistas a estudar o tema no país e recentemente lançou o livro “Iguais e Diferentes: Uma Jornada pela Economia Feminista”, trazendo um recorte sobre as diferenças de gênero no Brasil. Ela trabalhou por mais de 20 anos uma vez que professora e pesquisadora de economia. Porém, alguns anos detrás, optou por mudar de profissão e está concluindo o curso de psicologia.
Durante a sessão, a discussão caminhou para as experiências que as mulheres enfrentam ao longo de suas carreiras. As dificuldades, os vieses e as barreiras impostas que sofrem. Foi um momento de reflexão. O encontro foi tão produtivo que já estamos ansiosos pelo evento do ano que vem. Obrigada a todos que participaram do encontro do GeFam.
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