Influência sonora e visual na ansiedade das cidades – 22/10/2024 – Claudio Bernardes

Pesquisadores estimam que cerca de 4% da população mundial sofre com transtorno de ansiedade, um dos graves problemas de saúde pública que, em função de fatores ambientais, sociais e econômicos, afeta principalmente os moradores de áreas urbanas. Uma série de estudos empíricos relata que a ansiedade pode prejudicar a saúde humana por meio de múltiplas vias, e é capaz de levar a doenças mentais e físicas graves, que podem gerar mais ansiedade, criando um ciclo vicioso extremamente preocupante.

As áreas urbanas, por suas características próprias, sofrem com poluição atmosférica, ruídos de tráfego, falta de espaços verdes e congestionamentos, entre outros problemas. Além disso, em muitos casos, por razões sociais, econômicas e urbanísticas, devem ser adensadas do ponto de vista populacional, o que pode potencializar problemas, se não adotadas medidas mitigadoras adequadas.

Nas cidades contemporâneas, com alta densidade construtiva e populacional, grande variedade de sons urbanos se mistura, e combina com diversos tipos de ambientes visuais. Essa situação varia em função da paisagem urbana, do tipo de uso do solo e de atividades desempenhadas. Entretanto, a extensão dos efeitos dessa complexa mistura de ambientes acústicos e visuais no estado de ansiedade das pessoas precisa ser mais conhecida.

Pesquisadores das universidades de Hong Kong, Guangzhou e Tianjin, na China, associados a professores de universidades americanas de Utah e Illinois, estudaram a influência sonora e visual no alívio da ansiedade em ambientes urbanos de alta densidade. Estudos anteriores já haviam identificado a influência específica dos ambientes visuais e acústicos nos níveis de ansiedade, mas os efeitos combinados permaneciam desconhecidos.

O experimento foi realizado com amostra estatisticamente aceitável da população de Hong Kong. Por meio da avaliação, pelos participantes, de 20 ambientes acústicos visuais implantados em um laboratório de realidade virtual, foram medidas as mudanças de ansiedade, antes e depois da exposição aos cenários a que foram submetidos.

O estudo mostrou que os ambientes acústicos tiveram efeito 4,67 vezes maior sobre a ansiedade do que os visuais. O resultado confirma que, apesar de ter muita importância na vida da cidade, a informação recolhida visualmente do ambiente circundante nem sempre é dominante, particularmente em relação ao efeito na redução da ansiedade.

Os pesquisadores descobriram que os estímulos naturais produziram melhores efeitos do que os artificiais. A combinação de cenas verdes e sons naturais aliviou mais a ansiedade do que qualquer outro ambiente acústico-visual. Já os ruídos artificiais mostraram-se prejudiciais à ansiedade, e nem todos os seus efeitos adversos podem ser reduzidos com a introdução de cenas naturais.

Essas descobertas sugerem clara tendência de que a combinação de ambientes acústicos e visuais naturais pode atuar como uma forma de restauração psicológica e importante proteção da saúde mental da população. Aparentemente, efeitos sonoros têm maior influência no agravamento ou alívio da ansiedade dos moradores urbanos.

A investigação dos efeitos das diversas combinações de ambientes não pode, porém, se restringir a um único estudo. Outros devem ser realizados, considerando condições específicas das cidades.


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