Noticia
afonsinho, Ana Luiza Basilio, assine carta, assine carta capital, belluzzo, bndes, bolsonaro, brasil, carta capital, cartacapital, cidadania, correios, delfim neto, economia, editora confiança, esquerda, funai, istoé, jornalismo crítico, lava jato, Luiz Inácio Lula da Silva, Lula, manuela carta, mino carta, moro, política, progressista, revista época, sociedade, transparente, veja
seunono.com.br
0 Comentários
Novo Projecto de Transição Energética coloca o lobby do gás adiante da crise climática – Opinião – CartaCapital
“Essa sarau virou um enterro”. Recentemente, o governo federalista protagonizou um incidente que rapidamente se converteu em símbolo de ineficácia política, refletido no facécia que abre oriente texto, popular nas redes sociais. A cena em questão foi o lançamento da aguardada Política Pátrio de Transição Energética (PNTE), agendada para 26 de agosto pelo Ministério de Minas e Robustez. O evento, que tinha o potencial de se tornar um marco positivo para as comunidades impactadas pela exploração de combustíveis fósseis e para as organizações que defendem uma transição energética justa, acabou se revelando uma oportunidade desperdiçada. Em vez de impulsionar uma agenda social e ambiental robusta, o governo optou por privilegiar medidas que favorecem a produção e distribuição de gás fóssil — uma escolha que contradiz as expectativas de uma transição justa.
Embora o PNTE tenha sido oficialmente lançado durante o evento, suas diretrizes sobre energias renováveis foram escassas e pouco detalhadas. Os dois principais anúncios — a geração do Fórum Pátrio de Transição Energética (Manadeira) e o Projecto Pátrio de Transição Energética (Plante) —, apesar de positivos em teoria, chegam com um detença considerável. Deveríamos estar tratando dessas questões há anos. Outrossim, esses instrumentos são iniciais e não apresentam medidas concretas de impacto subitâneo. Em contraste, o programa “Gás para Empregar”, devotado à ampliação da oferta de gás fóssil, foi formalizado com um decreto que entrou em vigor prontamente.
A notícia solene do governo destaca a diversificação da oferta de gás, incluindo referências ao fracking, uma técnica altamente controversa e já banida em diversos países por seus impactos socioambientais. Essa priorização das indústrias de petróleo e gás revela a incongruência de um governo que, ao se declarar líder climatológico global em eventos internacionais, opta por políticas internas que perpetuam o uso de combustíveis fósseis, agravando a crise climática.
O contraste entre o exposição do governo e suas ações ficou ainda mais evidente no dia do lançamento do PNTE, quando Brasília amanheceu encoberta pela fumaça das queimadas que assolam boa segmento do País. Mesmo que se confirme a suspeita de que houve ação criminosa coordenada para provocar os focos de incêndio, a disseminação do queimação está diretamente associada à crise climática e ao fenômeno El Niño, que intensificam a seca em diversas regiões do Brasil.
Neste cenário de ruína ambiental, enquanto a Rossio dos Três Poderes e a Esplanada dos Ministérios eram envolvidas por sujeira, o governo preferiu ignorar a urgência de uma transição energética real, atuando porquê se a nuvem de fumaça não fosse exclusivamente literal, mas também simbólica.
Se o governo estivesse disposto a enfrentar a veras do setor energético global, entenderia que o gás fóssil nunca foi, e não será, um combustível de transição viável. Estudos do Quadro Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) reiteram, há anos, que a queima de gás fóssil contribui para o agravamento da crise climática, e que sua utilização deve ser drasticamente reduzida. Com a evolução de tecnologias limpas e acessíveis, porquê a virilidade solar e eólica, investir em infraestrutura para o gás é uma escolha arcaica. Teimar no gás fóssil no contexto de uma política de transição energética é tão obsoleto quanto apostar na indústria de CD-ROMs para liderar a inovação tecnológica. Esse anacronismo, porém, tem consequências ainda mais graves, pois impacta diretamente a saúde do planeta e de seus habitantes.
A insistência do governo em apresentar o gás fóssil porquê segmento de sua estratégia de transição energética revela-se ainda mais alarmante quando observamos os impactos já visíveis dessa política em regiões porquê a Amazônia e o Nordeste. Em Silves, no Amazonas, o projeto de extração de gás no Campo de Azulão está prejudicando o povo indígena Mura, comunidades ribeirinhas e a floresta. A extração ocorre sem licenciamento ambiental adequado e desrespeita frontalmente a Convenção 169 da OIT, que garante o recta à consulta prévia e informada aos povos indígenas sobre empreendimentos que afetam seus territórios.
No Maranhão, a prenúncio do fracking — técnica de extração banida em diversos países — paira sobre a população de Santo Antônio dos Lopes, que já sofre com os impactos das termelétricas e da extração convencional de gás. O governo deveria ouvir as evidências científicas que associam o fracking a terremotos, contaminação de chuva e solo, e danos à saúde humana. No entanto, as autoridades parecem fechar os olhos para essas evidências, permitindo que interesses corporativos prevaleçam sobre o bem-estar coletivo.
A resistência à tomada do Estado pelos interesses do lobby fóssil existe e vem sendo conduzida pelas comunidades mais diretamente afetadas. Povos indígenas, quilombolas, pescadores artesanais e moradores das periferias urbanas estão na traço de frente da luta por uma transição energética justa. Essas comunidades já se mobilizam ativamente contra a expansão do gás fóssil e demandam alternativas energéticas que respeitem tanto o meio envolvente quanto seus direitos.
Além dessas resistências locais, organizações da sociedade social também têm oferecido caminhos concretos para a transição energética. No mesmo dia em que o governo lançava sua tímida PNTE, o Observatório do Clima — uma rede de ONGs climáticas — apresentou uma proposta de metas de redução de emissões (NDCs) para o Brasil, alinhada com os compromissos globais de mitigação da crise climática. O projecto destaca a urgência urgente de interromper qualquer novo projeto de petróleo e gás, propondo, em vez disso, uma transição para energias limpas e renováveis.
A transição energética brasileira está em uma encruzilhada. Ao invés de sucumbir às pressões do capital fóssil, que procura perpetuar um protótipo de desenvolvimento insustentável, o governo deve ouvir as vozes da sociedade social e das comunidades mais impactadas. A única solução viável para enfrentar a crise climática e erigir um horizonte sustentável é desabitar o paradigma dos combustíveis fósseis e adotar uma política energética verdadeiramente justa, equitativa e popular. Somente assim será verosímil atender às necessidades da população e do planeta, e prometer que o Brasil esteja na vanguarda da luta global contra as mudanças climáticas.
Levante texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.
Publicar comentário