Pedra do Sal: de ‘Pequena África’ a um dos espaços mais segregados do RJ – 30/09/2024 – Sons da Perifa

A Pedra do Sal, um dos maiores símbolos da cultura negra carioca, vive há qualquer tempo uma grande mudança. Aquele reduto que abrigava rodas de samba raiz e era um ponto de encontro da galera que saia do trabalho ou da faculdade, hoje se vê inundado por turistas em procura de uma experiência cultural “autêntica”. Mas o que sobrou da espírito da Pedra do Sal?

A região, batizada por Heitor dos Prazeres porquê “Pequena África”, era muito mais do que um ponto turístico. Era um espaço de resistência, de troca cultural e de identidade. Ali, o samba nasceu e se desenvolveu, e os terreiros de candomblé encontravam um espaço de liberdade.

A revista TimeOut destacou a Pedra do Sal porquê um dos lugares imperdíveis na cidade do Rio de Janeiro, porém eu consigo listar vários motivos para você não ir. Tudo absurdamente custoso (tirando as caipirinhas que defenderei), a falta de banheiros, os repetidos furtos dentro do espaço e assaltos ao volta; e simples, a invasão gringa.

O que antes era um espaço de encontro para a comunidade negra, hoje é um palco para eventos, muitas vezes com um público predominantemente branco e de classe média. Posso provar meu ponto com uma cena que viralizou. Um dança charme, que cá eu não preciso ser redundante ao explicar, foi invadido pela música “Blank Space” de Taylor Swift. A reação do público, de maioria branco, contrastou com a história e a tradição do sítio, gerando um debate importante sobre a apropriação cultural e a perda da identidade do lugar.

A gourmetização da região e a proliferação de bares e restaurantes têm semoto os moradores mais antigos e transformado a Pedra do Sal em um espaço cada vez mais homogêneo e voltado para o consumo. Os furduncinhos que normalmente aconteciam nas ruas ao volta e tocavam de funk, pop ao trap, hoje toma conta do espaço para aprazer o novo público.

Se você procura um samba de verdade, longe da parafernália turística, a dica é procurar os pagodes da Zona Setentrião, porquê o Pagode e Chinelo, que acontece religiosamente às segundas, mesmo dia de maior movimento na Pedra do Sal. Lá você encontra um público mais leal às raízes do gênero e se der sorte ainda pega uma roda de samba com a Ludmilla.

É preciso encontrar um estabilidade entre a preservação da identidade cultural da Pedra do Sal e o desenvolvimento turístico da região, investindo em políticas públicas que garantam a segurança, a limpeza e a organização do espaço, mas supra de tudo, o compromisso de preservar sua história e sua cultura.

Gostaria de fechar esse texto com a positividade do Arlindo de que iremos encontrar o tom e fazer com que novamente fique bom, mas do jeito que o show tem continuado, se eu fosse você, não iria para os rolés da Pedra do Sal.


Essa material foi escrita pelo colaborador do Sons da Perifa, Bruno Sousa.


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