Quem venceu as eleições? – 12/10/2024 – Celso Rocha de Barros

A vitória da direita nas eleições de 2024 foi o intercepção de dois tsunamis que atingiram a política brasileira nos últimos anos. Nenhum é de esquerda.

O primeiro é o surto de extrema direita que começou com o impeachment de Dilma Rousseff e ganhou volume com a eleição de Bolsonaro. Efeitos dessa vaga ainda são claramente visíveis nos resultados de 2024: as listas de vereadores mais votados nas capitais estão cheias de extremistas, de Carlos Bolsonaro no Rio a Lucas Pavanatto em São Paulo.

Bolsonaristas puro-sangue ainda podem invadir as prefeituras de Curitiba, Fortaleza e Belo Horizonte. Quando segmento da liderança bolsonarista tentou se confederar à direita tradicional, seus seguidores se insurgiram e abraçaram extremistas uma vez que Pablo Marçal e Cristina Graeml.

A propósito, por algumas horas na noite de domingo os eleitores cariocas chegaram a se iludir, achando que dessa vez Carluxo não teria selecção a não ser dar expediente uma vez que vereador. Mas na segunda-feira o Twitter voltou.

A segunda vaga que ganhou volume na política brasileira nos últimos anos foi o fortalecimento dos partidos políticos, iniciado em seguida a reforma política de 2017.

Os governos petistas haviam proposto reformas parecidas por duas vezes antes disso. Se as reformas tivessem sido aprovadas nos anos 2000, PT e PSDB teriam se consolidado uma vez que máquinas partidárias mais sólidas.

Não foram. As reformas que fortaleceram os partidos só aconteceram em 2017, nos anos de menor popularidade da esquerda desde a volta da democracia e de início do surto de extrema direita.

Ouvi de um ex-dirigente petista: já há direitistas falando de voto em lista fechada, sistema que dá enorme poder às direções partidárias para instaurar que deputados serão eleitos. Nos anos 2000, quando o PT propôs a lista fechada, foi indiciado de querer instaurar a ditadura das burocracias partidárias.

Com isso, os partidos fortalecidos pela reforma de 2017 foram, sobretudo, os partidos do centrão. O PP, o União Brasil, o PSD de Kassab são máquinas cada vez mais ricas e poderosas. O Congresso Vernáculo, onde o centrão é mais poderoso, vem a cada dia roubando da Presidência o controle de um pedaço maior do Orçamento. E os partidos de direita aprenderam com o PT, que por muitos anos foi a única grande legenda a oferecer formação a seus militantes, a ter secretaria de mulheres, de jovens, etc.

O Brasil está se tornando um país de partidos, e as legendas que estão se fortalecendo são as que todo mundo, tucanos e petistas, black blocs de 2013 e bolsonaristas, achavam as piores.

Ninguém discute que a esquerda perdeu, mas qual das duas direitas venceu a eleição de 2024? A direita-redes ou a direita-máquina?

Se o bolsonarismo vencer em Curitiba e Belo Horizonte, poderá expor que teve uma boa eleição. Mas os grandes vencedores de 2024 foram as novas máquinas partidárias do centrão, que devem governar a maior segmento dos brasileiros nos próximos quatro anos.

O que não sabemos é se esses partidos fortes aceitarão o risco de se tornarem partidos que elegem presidente, se aceitarão ir para o meio do mira. O último grande partido que fez esse papel pela direita teve somente 1,5% dos votos em São Paulo neste ano e não tem mais vereadores na cidade.


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