Todo meu amor pelos rolês aleatórios mais adoráveis do futebol brasileiro
Inter x México e Boca Juniors x Juventude não são páreo para a coleção de jogos inusitados que este país já experimentou Internacional 0 x 2 México | Melhores Momentos | Amistoso
Diguinho dá um drible desconcertante em Pirlo. Fernando Diniz grita à beira do campo na Coreia do Norte. O Capitão Oliver Tsubasa vai parar em Osasco com a seleção do Tajiquistão. Você poderia estar acordando de sonhos intranquilos, mas tudo isso aconteceu – foram alguns desses rolês aleatórios que mostram como a vida vale a pena.
Nesta quinta-feira, o Inter perdeu por 2 a 0 para o México no Beira-Rio, e um dia antes, pelo mesmo placar, o Juventude havia sido derrotado pelo Boca Juniors. Foram dois jogos inusitados, curiosos. Mas na tabela de classificação das partidas mais aleatórias do futebol brasileiro, eles mal pegam vaga na Sul-Americana.
Inter x México Alan Patrick Beira-Rio
Luiz Erbes/AGIF
Gosto muito desses jogos em que alguma entidade superior parece ter arremessado um monte de papel picado para cima, catado dois deles, lido os nomes e mandado os times se enfrentarem. Tem um eco romântico aí – quando jogos brotam do nada em alguma praça ou alguma praia, e de repente desconhecidos montam dois times e saem jogando simplesmente porque sim.
A roleta da aleatoriedade girava com mais força algumas décadas atrás, quando times brasileiros excursionavam mundo afora. E aí acontecia de o Bangu enfrentar o Bayer Leverkusen na Coreia do Sul (é sério), de o Bonsucesso vencer o River Plate na Espanha ou de a Portuguesa meter um 6 a 3 no West Ham nos Estados Unidos.
O mundo mudou, calendários ficaram inchados, e essas maravilhas da casualidade foram perdendo fôlego. Mas ainda rolam, geralmente motivadas por alguma razão prática, como aconteceu no impagável Fluminense 3 x 5 Itália de 2014 em Volta Redonda.
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Era véspera da Copa do Mundo no Brasil, a seleção italiana precisava testar a equipe, e aí surgiu essa lindeza. Infelizmente, Gum não teve sorte contra Immobile, autor de três gols, mas Pirlo jamais esquecerá o drible que levou de Diguinho – um toquezinho de classe, por baixo da bola, que fez o italiano passar reto.
Até o mais aleatório dos rolês tem uma explicação prática. A partir de 2009, o Atlético Sorocaba fez uma série de viagens à Coreia do Norte, o país mais fechado do mundo. Na primeira delas, ao chegar ao estádio, os jogadores perceberam uma pequena imprecisão: estavam sendo tratados como a seleção brasileira. Uma multidão cercou o ônibus, 80 mil pessoas ocuparam as arquibancadas, e o telão exibia, orgulhoso, o BRA de Brasil.
Essas viagens só aconteceram porque o dono do Atlético Sorocaba era o Reverendo Moon, um controverso líder religioso e empresário nascido na Coreia antes da divisão do território. Embora anticomunista, ele mantinha relações com a ditadura norte-coreana. Como o país havia se classificado para a Copa do Mundo de 2010, precisava fazer algum intercâmbio com o mundo exterior, e aí uma coisa levou à outra. As excursões se repetiram nos anos seguintes, e em uma delas o técnico do time brasileiro era um jovem inquieto chamado… Fernando Diniz.
Um time na Coreia do Norte: as andanças do Atlético Sorocaba no país mais fechado do mundo
Em 2019, tive o privilégio de testemunhar a passagem do Tajiquistão por Osasco, por mais estranho que isso soe. O pequeno país asiático, nascido da implosão da União Soviética, veio parar no Brasil com seu time sub-17 para disputar o Mundial da categoria, que deveria ter sido realizado no Peru, mas acabou transferido para o Brasil. Aí uma pessoa da delegação tajique conhecia uma pessoa do Audax, e assim se formou o jogo, que ainda teve um detalhe delicioso: na comissão técnica do Tajiquistão, estava o japonês Musashi Mizushima, ex-jogador do São Paulo – e que, por jogar no Brasil, virou celebridade e serviu de inspiração para a criação da personagem Oliver Tsubasa, o Capitão Tsubasa, protagonista de um desenho que fez sucesso por aqui ao passar na TV Manchete com o nome de “Super Campeões”. Pouco aleatório?
O episódio mais recente aconteceu no fim do ano passado, com a divertidíssima jornada da seleção sub-23 da Rússia contra o São Cristóvão no calor de quase dezembro no Rio de Janeiro. Um grupo de torcedores, ciente de que não veria um jogo daqueles todos os dias, foi ao estádio e resolveu aproveitar. Cantou versos como “Ah, que bom seria/Se o Putin acabasse com o Olaria” e “Doutor, eu não me engano/Esse juiz é ucraniano”.
Mas esses eventos também podem ter momentos de alto perigo diplomático. Jamais esquecerei a imagem daquele pobre jogador russo pulando na frente do alambrado, feliz da vida, achando que estava sendo homenageado pela torcida – enquanto ela, na verdade, entoava xingamentos contra o rapaz.
Inter x México e Boca Juniors x Juventude não são páreo para a coleção de jogos inusitados que este país já experimentou Internacional 0 x 2 México | Melhores Momentos | Amistoso
Diguinho dá um drible desconcertante em Pirlo. Fernando Diniz grita à beira do campo na Coreia do Norte. O Capitão Oliver Tsubasa vai parar em Osasco com a seleção do Tajiquistão. Você poderia estar acordando de sonhos intranquilos, mas tudo isso aconteceu – foram alguns desses rolês aleatórios que mostram como a vida vale a pena.
Nesta quinta-feira, o Inter perdeu por 2 a 0 para o México no Beira-Rio, e um dia antes, pelo mesmo placar, o Juventude havia sido derrotado pelo Boca Juniors. Foram dois jogos inusitados, curiosos. Mas na tabela de classificação das partidas mais aleatórias do futebol brasileiro, eles mal pegam vaga na Sul-Americana.
Inter x México Alan Patrick Beira-Rio
Luiz Erbes/AGIF
Gosto muito desses jogos em que alguma entidade superior parece ter arremessado um monte de papel picado para cima, catado dois deles, lido os nomes e mandado os times se enfrentarem. Tem um eco romântico aí – quando jogos brotam do nada em alguma praça ou alguma praia, e de repente desconhecidos montam dois times e saem jogando simplesmente porque sim.
A roleta da aleatoriedade girava com mais força algumas décadas atrás, quando times brasileiros excursionavam mundo afora. E aí acontecia de o Bangu enfrentar o Bayer Leverkusen na Coreia do Sul (é sério), de o Bonsucesso vencer o River Plate na Espanha ou de a Portuguesa meter um 6 a 3 no West Ham nos Estados Unidos.
O mundo mudou, calendários ficaram inchados, e essas maravilhas da casualidade foram perdendo fôlego. Mas ainda rolam, geralmente motivadas por alguma razão prática, como aconteceu no impagável Fluminense 3 x 5 Itália de 2014 em Volta Redonda.
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Era véspera da Copa do Mundo no Brasil, a seleção italiana precisava testar a equipe, e aí surgiu essa lindeza. Infelizmente, Gum não teve sorte contra Immobile, autor de três gols, mas Pirlo jamais esquecerá o drible que levou de Diguinho – um toquezinho de classe, por baixo da bola, que fez o italiano passar reto.
Até o mais aleatório dos rolês tem uma explicação prática. A partir de 2009, o Atlético Sorocaba fez uma série de viagens à Coreia do Norte, o país mais fechado do mundo. Na primeira delas, ao chegar ao estádio, os jogadores perceberam uma pequena imprecisão: estavam sendo tratados como a seleção brasileira. Uma multidão cercou o ônibus, 80 mil pessoas ocuparam as arquibancadas, e o telão exibia, orgulhoso, o BRA de Brasil.
Essas viagens só aconteceram porque o dono do Atlético Sorocaba era o Reverendo Moon, um controverso líder religioso e empresário nascido na Coreia antes da divisão do território. Embora anticomunista, ele mantinha relações com a ditadura norte-coreana. Como o país havia se classificado para a Copa do Mundo de 2010, precisava fazer algum intercâmbio com o mundo exterior, e aí uma coisa levou à outra. As excursões se repetiram nos anos seguintes, e em uma delas o técnico do time brasileiro era um jovem inquieto chamado… Fernando Diniz.
Um time na Coreia do Norte: as andanças do Atlético Sorocaba no país mais fechado do mundo
Em 2019, tive o privilégio de testemunhar a passagem do Tajiquistão por Osasco, por mais estranho que isso soe. O pequeno país asiático, nascido da implosão da União Soviética, veio parar no Brasil com seu time sub-17 para disputar o Mundial da categoria, que deveria ter sido realizado no Peru, mas acabou transferido para o Brasil. Aí uma pessoa da delegação tajique conhecia uma pessoa do Audax, e assim se formou o jogo, que ainda teve um detalhe delicioso: na comissão técnica do Tajiquistão, estava o japonês Musashi Mizushima, ex-jogador do São Paulo – e que, por jogar no Brasil, virou celebridade e serviu de inspiração para a criação da personagem Oliver Tsubasa, o Capitão Tsubasa, protagonista de um desenho que fez sucesso por aqui ao passar na TV Manchete com o nome de “Super Campeões”. Pouco aleatório?
O episódio mais recente aconteceu no fim do ano passado, com a divertidíssima jornada da seleção sub-23 da Rússia contra o São Cristóvão no calor de quase dezembro no Rio de Janeiro. Um grupo de torcedores, ciente de que não veria um jogo daqueles todos os dias, foi ao estádio e resolveu aproveitar. Cantou versos como “Ah, que bom seria/Se o Putin acabasse com o Olaria” e “Doutor, eu não me engano/Esse juiz é ucraniano”.
Mas esses eventos também podem ter momentos de alto perigo diplomático. Jamais esquecerei a imagem daquele pobre jogador russo pulando na frente do alambrado, feliz da vida, achando que estava sendo homenageado pela torcida – enquanto ela, na verdade, entoava xingamentos contra o rapaz.
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