Notícias Especiais seunono.com.br 27 de setembro de 2024 0 Comentários

Vale do Bekaa: o que é e por que Israel está atacando região onde moravam jovens brasileiros mortos?

Pessoas inspecionam o local, alvo de ataque noturno, na área de Nabi Sheet, Vale de Bekaa, Líbano — Legenda da foto, Sabido por sua lavradio, abrigando quase metade das terras aráveis do Líbano, Vale do Bekaa também tem sido indicado uma vez que um meio crucial para as operações do Hezbollah, segundo autoridades israelenses

Há 8 minutos

O objetivo, segundo autoridades israelenses, é enfraquecer a capacidade militar do Hezbollah e preparar uma provável invasão terrestre ao sul do Líbano.

Israel concentrou seus ataques na região sul do país, de onde o Hezbollah tem disparado foguetes e mísseis contra o território israelense.

Aliás, bombardeios israelenses atingiram redutos do Hezbollah no sul de Beirute e no Vale do Bekaa, sendo que leste último resultou na morte de dois adolescentes brasileiros: Ali Kamal Abdallah, de 15 anos, e Mirna Raef Nasser, de 16 anos, conforme noticiado pela prensa brasileira com base em entrevistas com familiares.

A morte de Ali foi confirmada pelo Itamaraty, enquanto a de Mirna ainda aguarda confirmação até o momento da publicação desta reportagem.

Mas o que é o Vale do Bekaa e por que está sendo atacado?

O Vale do Bekaa, situado no leste do Líbano, entre as cordilheiras do Líbano e Anti-Líbano, é uma região fértil e de grande relevância estratégica. Por ali passaram inúmeras civilizações, desde os antigos fenícios a romanos e otomanos.

Originalmente famoso pela lavradio, com quase metade das terras aráveis do país, o vale também tem sido um meio crucial para as operações do Hezbollah, segundo autoridades israelenses.

A proximidade com a fronteira da Síria faz do vale um ponto logístico vital para o grupo, que, segundo Israel, utiliza a região para armazenar armas, treinar soldados e manter rotas de suprimentos com o Irã.

O tropa israelense intensificou recentemente os ataques ao Vale do Bekaa, que até logo havia sido poupado, com o objetivo de enfraquecer as capacidades militares do Hezbollah.

O grupo é réu de usar o vale para armazenar foguetes e facilitar o transporte de armas vindas do Irã.

Autoridades libanesas e organizações independentes, por sua vez, afirmam que os ataques acontecem em regiões densamente povoadas, resultando em centenas de civis entre as vítimas.

Segundo Nicholas Blanford, pesquisador sênior não residente dos Programas do Oriente Médio do think tank americano Atlantic Council, “nas fases iniciais depois a invasão de Israel ao sul do Líbano em 1982”, que propiciou o surgimento do Hezbollah, combatentes foram “recrutados no Vale do Bekaa através de um processo de mobilização em volume ao longo de linhas familiares e de clãs, o que ajudou a preservar a segurança interna, muito uma vez que a facilitar o recrutamento de centenas de voluntários”, escreveu ele em item para a revista The Cairo Review of Global Affairs em 2021.

O Vale do Bekaa também foi palco da Operação Tenro Cricket 19, uma das maiores vitórias militares de Israel na Guerra do Líbano de 1982, quando a força aérea israelense destruiu 15 das 19 baterias de mísseis SAM, de fabricação soviética, sem o uso de tropas terrestres em exclusivamente duas horas e derrubou 90 aeronaves inimigas.

Segundo o jornal Jerusalem Post, “considera-se leste o maior feito militar das Forças de Resguardo de Israel (IDF, na {sigla} em inglês), talvez até superando a Operação Focus, o ataque distraído inicial da Guerra dos Seis Dias, durante o qual Israel praticamente destruiu as forças aéreas da Síria e do Egito”.

Adolescentes brasileiros mortos

Ali Kamal Abdallah e pai — Legenda da foto, Ali Kamal Abdallah, nascido em Foz do Iguaçu, estava com seu pai, de nacionalidade paraguaia, quando foi atingido por um ataque distraído

Os dois adolescentes brasileiros mortos, Ali Kamal Abdallah e Mirna Raef Nasser, viviam no Vale do Bekaa.

Ali, nascido em Foz do Iguaçu, estava com seu pai, de nacionalidade paraguaia, quando foi atingido por um ataque distraído. A morte dele foi confirmada pelo Itamaraty.

Mirna, nascida em Balneário Camboriú, vivia no Líbano desde bebê e foi morta ao lado do pai quando sua lar foi bombardeada.

A morte dela foi confirmada em entrevistas à prensa brasileira pelo tio, Ali Hussein Nasser. O Itamaraty ainda não se manifestou.

De negócio com Ali Hussein, que vive em Santa Catarina, Mirna e seu pai foram buscar alguns pertences na lar onde moravam, mas o imóvel foi atingido por um bombardeio. Mirna planejava voltar ao Brasil para visitar a família ainda leste ano.

Em entrevista à GloboNews, Ali relatou que Mirna e seu pai morreram instantaneamente, e seus corpos ficaram presos nos escombros, pois a região estava sendo bombardeada por aviões israelenses, impossibilitando que outras pessoas os retirassem do lugar.

A confirmação da morte de Mirna e seu pai só ocorreu depois conversas com a família de Ali Kamal Abdallah, acrescentou o tio.

“Aquele menino que morreu era nosso vizinho no Líbano. Recebemos telefonemas e tenho conversado bastante com os pais dele. Tentei vincular para meu irmão, o pai de Mirna, mas ele não atendeu. Depois, meu irmão ligou novamente e disse que a lar havia sido atacada”, explicou ele à GloboNews.

O Itamaraty disse que está avaliando uma operação de retirada de brasileiros do Líbano. Segundo relato solene, são cerca de 22 mil no país, a maior comunidade no Oriente Médio.

Procurada pela BBC News Brasil, a Embaixada do Brasil em Beirute ainda não informou quantos brasileiros residem no Vale do Bekaa.

Escalada

Combatente do Hezbollah vestido de preto balança bandeira amarela do grupo — Legenda da foto, Hezbollah surgiu nos anos 1980, durante a guerra social no Líbano, e lutou contra Israel até sua retirada do sul do país em 2000

A atual escalada começou em 8 de outubro de 2023, um dia depois o ataque do Hamas a Israel. Na ocasião, o Hezbollah anunciou que estava atacando posições israelenses em solidariedade aos palestinos e prometeu escora ao Hamas.

Os bombardeios de Israel na última segunda-feira foram os mais mortais em duas décadas, causando a morte de 558 pessoas.

A ONU estima que mais de 110 milénio libaneses fugiram de suas casas no sul do país, enquanto tapume de 70 milénio israelenses foram deslocados no setentrião de Israel. O governo israelense afirmou que prometer o retorno dessas pessoas às suas comunidades é um dos objetivos da guerra.

Ainda não está simples o nível de devastação no sul do Líbano. Imagens de satélite do vale do Bekaa mostraram fumaça subindo de áreas em vilarejos alvos dos ataques israelenses.

O Hezbollah surgiu nos anos 1980, durante a guerra social no Líbano, e lutou contra Israel até sua retirada do sul do país em 2000. As duas partes também travaram uma guerra de 34 dias em 2006.