Variar postura é mais importante do que posição ideal – 22/10/2024 – Equilíbrio e Saúde
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Você tem um familiar que vive implicando com sua postura? Se sim, trago uma notícia: não existe uma postura correta, de acordo com a ciência.
“Por muito tempo, as pessoas acreditavam que postura ideal é aquela em que você mantém a coluna ereta durante o maior período possível, ombros para trás, coluna bem alinhada”, explica Laísa Braga, fisioterapeuta especialista em traumatologia e ortopedia.
Mas… Evidências científicas recentes mostram que o ideal é ter variação de postura, ou seja, não ficar por muito tempo na mesma posição, complementa a especialista.
“A ideia de ‘postura correta’ tem sido muito prejudicial, principalmente para pessoas que têm dores nas costas, porque elas passam a se culpar, se tornam hipervigilantes, buscando a posição que as deixaria sem dor”, diz o fisioterapeuta, cientista e professor Ney Meziat, membro da Abrafito (Associação Brasileira de Fisioterapia Traumato-Ortopédica).
Entenda: ficar numa mesma posição por muito tempo pode sobrecarregar as articulações —seja da coluna, do joelho ou do quadril— e causar lesões, explica o médico ortopedista Lucas Sangoi Alves.
Então, por que sentimos dores? Há alguns gatilhos imediatos, segundo Meziat:
1. Postura desajeitada (“awkward posture”, em inglês). Acontece quando colocamos nosso corpo em uma posição com a qual ele não está habituado. É diferente de uma “postura ruim”. Significa que você fez algo que não tem costume de fazer e ultrapassou algum limite.
- Exemplo: arrumar uma gaveta de difícil acesso ou caçar o controle remoto que caiu na fresta do sofá.
2. Desatenção ao realizar tarefas. Não prestar atenção no que está fazendo também pode trazer dores.
- Exemplo: fazer uma série na academia enquanto conversa, sem focar na execução do exercício.
3. Fatores biopsicossociais. O nome parece difícil, mas a explicação é simples: outros aspectos da sua vida, que não somente a ação física, podem te deixar mais suscetível a dor.
Pode ser um estresse no trabalho, uma noite mal dormida, um evento de ansiedade ou depressão. “Todos esses fatores interagem para causar um episódio de dor”, diz o cientista.
Quando falamos sobre prevenção de dores, a palavra mágica é mobilidade, se manter em movimento. E a atividade física é fundamental nessa história toda, diz Fernando Herrera, cirurgião de coluna do Hospital Sírio-Libanês.
E qual exercício é o melhor? Aquele que a pessoa gosta de fazer. O ideal é combinar atividades aeróbicas —como caminhada, natação e bicicleta— com exercícios de resistência muscular, como treinamento funcional, pilates, crossfit ou musculação.
↳ Mas o mais importante é achar algo que traga prazer e faça com que você mantenha o exercício físico como parte da rotina.
“Eu ficaria menos preocupado com a postura e mais preocupado com o estilo de vida“, complementa Ney Meziat. “Se você consegue fazer exercício regularmente e ter boa qualidade de sono, já é meio caminho andado para ter menos chance de desenvolver dores.”
Falando em sono… Ele é um dos momentos mais importantes de manutenção de saúde. E, diferente do que muitos pensam, também não há uma melhor posição para dormir.
Dormir da forma mais confortável para você é o que garante um sono reparador de verdade, explica Laísa Braga. “Às vezes, exigir que a pessoa durma numa posição X, que ela não está acostumada, pode fazer com que o sono dela seja ruim.”
Há exceções, é claro: estamos falando sobre pessoas que não sofrem com lesões ou outros problemas de saúde. Algumas condições específicas podem demandar ajustes de posicionamento durante a noite e ao longo do dia.
Trabalha o dia todo sentado? Não ter que cumprir uma “postura correta” não significa que você deve ficar desconfortável na cadeira. Pelo contrário, o ponto principal aqui é buscar uma posição que te dê conforto.
E algumas recomendações podem ajudar bastante. Veja dicas para quem passa a maior parte do dia sentado, de acordo com os especialistas:
- Levante-se pelo menos uma vez a cada hora. Pode ser para ir ao banheiro, buscar água ou só andar um pouco. Colocar um alarme no celular ajuda a lembrar das pausas.
- Mantenha a altura da tela do computador na linha dos olhos.
- Busque uma cadeira confortável. De preferência, com apoio para os membros superiores (braços e cotovelos) e para os pés, se eles não alcançarem o chão.
- Faz home office? Tente variar as cadeiras. Trabalhe um pouco na cadeira de escritório, troque para a da cozinha, para o sofá e até para a cama (sim, um cientista me contou que trabalhar da cama, nesse contexto e com conforto, pode ser bom).
Todas essas orientações são reduções de dano em relação à ergonomia, explica Laísa Braga. “Mas tenha em mente que o importante é estar sempre mudando de posição.”
O ideal é que a pessoa encontre uma posição confortável para trabalhar, que consiga ficar sem sentir dor, complementa Fernando Herrera.
Quando buscar ajuda? Em caso de dor que persiste por mais de sete ou dez dias, diz o ortopedista Lucas Sangoi Alves, ou quando a dor tem uma progressão rápida (começa leve e torna-se mais forte).
- Formigamentos, falta de sensibilidade e perda de força também são sinais de alerta, pois podem significar alterações neurológicas, não só físicas.
Mas quando a dor é o famoso “mau jeito”, a tendência é que ela suma com o passar do tempo, sem necessidade de intervenção.
“Temos que deixar as pessoas mais confiantes nos seus corpos. Fazer exercício físico dá essa confiança e o condicionamento necessário para ficar mais ‘antifrágil’ no dia a dia”, complementa Meziat.
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