Venezuelano vem ao Brasil para mostrar atas da eleição ao Itamaraty
Com atas eleitorais em mãos, o venezuelano Gustavo Silva, de 38 anos, está em Brasília, representando o grupo opositor a Nicolás Maduro. Ele pretende se encontrar com deputados, senadores e representantes do Itamaraty, nos próximos dias, para falar sobre o resultado das eleições presidenciais no país.
Depois de passar por Chile e Argentina, Silva desembarcou no Brasil, numa espécie de peregrinação internacional, cujo intuito é articular apoio e reconhecimento à vitória do candidato Edmundo González, que segue em asilo político na Espanha.
Gustavo vive nos Estados Unidos há um ano e atuou, à distância, na coordenação do recolhimento das atas eleitorais em julho, quando houve a votação na Venezuela. Segundo ele, o objetivo é garantir até a data da posse presidencial, marcada para 10 de janeiro de 2025, o máximo de apoio possível ao que ele chama de “reais resultados da eleição”.
À medida que o tempo passa e Maduro segue no poder, sem indicativo de que algo mudará no país, os opositores tentam, por meio dessa campanha externa, obter alguma sinalização ou apoio para pressionar a aceitação do resultado das urnas. O governo dos Estados Unidos, por exemplo, já expressou reconhecimento à vitória de González.
Em publicação nas redes sociais, no dia 19 de novembro, o chefe da diplomacia norte-americana, Antony Blinken, escreveu o seguinte: “O povo venezuelano falou com força em 28 de julho e fez Edmundo González o presidente eleito. A democracia exige respeito à vontade dos eleitores”.
Atas originais
Assim como Gustavo, outros venezuelanos que vivem fora do país também participam da campanha internacional da oposição. Eles levam consigo originais das atas eleitorais – “relíquias e documentos históricos”, define ele – para mostrar às autoridades e representantes de outras nações o resultado da eleição.
Ao todo, o grupo capitaneado por González e a líder política Maria Corina Machado, que era a candidata original da Mesa da Unidade Democrática (MUD), mas foi impedida de concorrer, recolheu 25 mil atas eleitorais. Elas correspondem a 85% do total e, juntas, segundo Gustavo, atestam a vitória do adversário de Maduro.
O restante, estimado em cerca de 5 mil atas, ficou com o governo venezuelano, mas, mesmo que todos os eleitores, nessas respectivas sessões eleitorais, tivessem votado em Maduro, seria insuficiente para reverter o resultado apontado nas 25 mil atas que foram recolhidas pela oposição. “Mesmo que isso ocorresse, o que é impossível, González ainda teria 700 mil votos de frente”, diz Gustavo.
Importância do apoio do Brasil
O possível apoio do Brasil, que enfrenta hoje uma crise diplomática com o governo venezuelano, é considerado de extrema importância. A influência do país na América Latina e as boas relações mantidas com nações de outras partes do mundo, com participação no Brics e no G20, colocam o país em posição estratégica.
Fora isso, lembra Gustavo, o Brasil participou diretamente da negociação da assinatura do Acordo de Barbados, em 2023, que estabeleceu critérios para as eleições venezuelanas deste ano e enviou um observador especial para acompanhar o andamento da votação, em julho. Trata-se do assessor especial de política internacional do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Celso Amorim.
Gustavo fica em Brasília até esta quarta-feira (27/11). Ele pretende visitar o Congresso Nacional para se encontrar com deputados e senadores de todos os espectros políticos, da esquerda à direita, e busca também uma agenda junto a representantes do Itamaraty, especialmente Amorim, mas ainda não obteve resposta.
“Temos todas as atas, todas as provas e temos que fazer alguma coisa. Estamos fazendo esse trabalho, porque é nosso compromisso. A gente não tem muito tempo, mas é importante que a Venezuela tenha uma saída pacífica e democrática para o processo eleitoral, com os venezuelanos como centro. E não vamos deixar passar essa oportunidade, porque se não respeitar o resultado nesse momento, não vamos ter outro momento para eleições na Venezuela como estas. Há uma parte dessa história que temos que fechar, e essa parte é a verdade”, afirma Gustavo.
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