‘Você está ocupando o leito de alguém que merecia mais’ – 30/09/2024 – Vida de Alcoólico
“Você sabe onde está?” Foi isso que ouvi quando acordei meio zonza com uma luz branca na minha face. Lembrava vagamente o que tinha ocorrido. Estava num hospital depois de ter ingerido muita bebida alcoólica e alguns comprimidos ansiolíticos, mais conhecidos porquê tarja preta.
A dor que começou na cabeça se transformou em um tormento. A médica veio me dar um sermão dizendo que eu estava ocupando um leito de alguém que merecia mais. A culpa que senti foi gigante. Eu mesma não entendia por que estava ali, as coisas ainda estavam confusas para mim, mas ela insistiu em expressar que era um paradoxal o que eu tinha feito.
A culpa aumentou. Olhava para os lados e via muitos doentes das mais diversas enfermarias, e o meu problema parecia ser o menor de todos. Pelo menos aos olhos da médica de plantão.
Essa não foi a única vez que enfrentei uma situação constrangedora em decorrência do alcoolismo. Também passei alcoolizada por alguns prontos-socorros, pedindo ajuda, e todas as vezes me encaminhavam para uma longa fileira de espera. Com perceptível desprezo, eu notava. Entendo o despreparo. Quando alguém vê uma pessoa completamente alcoolizada, o primeiro passo é se distanciar dela. Mas se a pessoa chega a um hospital, há dor. E isso deveria satisfazer.
Já faz mais de quinze anos que não passo por uma situação assim. Às vezes me pego pensando se os médicos têm avançado sobre esse tópico. Será que ainda tratam uma pessoa nas mesmas condições do modo porquê me tratavam?
Alcoolismo mata e precisa ser encarado porquê um problema urgente. Constato porquê é difícil vê-lo porquê uma doença que prejudica tanto e que tem tantos agravantes.
Evidente que eu sou unicamente uma alcoólico que divaga sobre os mais diversos assuntos do universo que me cabe. Receio pelas pessoas que ainda sofrem com o álcool e ficam à deriva porquê fiquei muitas vezes. Sinto pena ao imaginar que alguém vai suportar tanto quanto sofri e também se sentir tão culpado.
Espero que as políticas públicas incluam em seus programas um tratamento para essa doença. É preciso que esses profissionais da saúde recebam uma formação específica, que lhes proporcione um conhecimento profundo a reverência. Uma política de prevenção e um olhar sem preconceito são mais do que necessários. A bebida é o ansiolítico mais barato e é usado por toda população. Todo desvelo é pouco.
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