Desistir não é a opção para jovem campeão mundial de Hapkido

O Hapkido nasceu na Coreia do Sul nos combates militares e chegou ao Brasil em 1970

O Hapkido nasceu na Coreia do Sul nos combates militares e chegou ao Brasil em 1970 |  Foto: Raphael Muller / Ag. A TARDE

Por mais assustador e revelador que pareça, a vida dá sinais claros de que hesitar, voltar atrás ou desistir é a pior decisão a ser tomada. O jovem Kauan Trindade, de 20 anos, carioca criado na Bahia e atleta de hapkido, quebrou a clavícula num treinamento quando desistiu de um salto no meio da execução aos oito anos de idade. Só que, anos depois, se tornaria campeão mundial e dono de mais de 60 medalhas de ouro no esporte.

“Meu professor ia lá em casa para me levar sorvete e me fazer não desestimular. Sempre tivemos essa parceria fora do tatame”, contou Kauan em entrevista ao MASSA! sobre seu período de recuperação.

Sua trajetória no hapkido começou há 15 anos, quando conheceu o esporte no projeto social do avô. Desde então, não sabe o que seria de si sem ele. “Não é terapia, mas é terapêutico”, definiu o atleta que faz parte do dojang Hapkido Botto há cerca de 10 anos, o qual julga ser o melhor do Brasil em termos de resultados, dedicação e união da equipe, que treina na Academia Villa Prime, em Salvador.

“Aqui sempre foi um porto seguro, uma família. As viagens unem muito a gente, passamos quatro, sete dias juntos competindo”, destacou.

As equipes do Botto já competiram de Minas Gerais a Pernambuco, do Paraguai ao México. Mas foi no mundial do México, em 2019, que Kauan conquistou cinco ouros: salto em altura – com recorde mundial -, salto em distância, defesa pessoal, apresentação com arma e exibição em equipe.

“Ver a galera do México gritar e aplaudir um atleta que eles nem conheciam foi uma das melhores sensações que tive em toda a minha vida, não só na arte marcial. Eu já tinha sido campeão quando o mesário perguntou se eu queria tentar bater o recorde, era eu contra mim mesmo. Nós sempre lutamos contra nós mesmos no esporte, na arte marcial principalmente”, avaliou. Pela categoria sub-16, Kauan saltou 1,80m e detém o recorde nos mundiais organizados pela federação mexicana até hoje. Passados cinco anos desde então, já conseguiu até saltar 2m.

Equipe treina no Villa Prime  e obtém bons resultados, com união e dedicação

Equipe treina no Villa Prime e obtém bons resultados, com união e dedicação | Foto: Raphael Muller / Ag. A TARDE

Esporte é pouco conhecido por aqui

O hapkido não é um esporte muito conhecido no Brasil. Nasceu na Coreia do Sul com origens nos combates militares e passou por renovação no início do século passado. Em solo brasileiro, começou a ser praticado na década de 1970. Seu nome (em português se pronuncia como “rapquidô”) significa “caminho da união da força interior”. É voltado para a defesa pessoal e, para Kauan, se diferencia das outras principalmente por sua diversidade de modalidades e movimentos.

“Participo de entre três e seis modalidades por campeonato, porque é inviável competir em todas. Tem luta, defesa pessoal, salto em altura e distância, exibição em equipe, individual e com arma, quebramento de tábua, além de modalidades específicas para crianças”, explicou.

Jovem atleta já é campeão mundial e tem mais de 60 medalhas de ouro em competições

Jovem atleta já é campeão mundial e tem mais de 60 medalhas de ouro em competições | Foto: Raphael Muller / Ag. A TARDE

Olimpíadas é sonho distante

Alguns obstáculos separam o hapkido do reconhecimento. O sonho de participar de uma Olimpíada, por exemplo, passa muito pela organização política do esporte em federações, aspecto muito atrasado no hapkido: não há unificação do esporte no cenário estadual, quem dirá nos aspectos nacional e mundial. Além disso, nem o dojang nem os atletas recebem apoio financeiro ou têm acordos de patrocínio. Todo o planejamento de viagens para competições é feito com dinheiro próprio.

“Queria que tivéssemos o devido reconhecimento, porque afinal de contas somos atletas. Treinamos, convivemos com dores, temos período de pré-campeonato, descansamos pouco. Parece que remamos contra a maré. Ser atleta no Brasil é difícil, ainda mais de hapkido, porque as pessoas nem conhecem”, desabafou.

*Sob a supervisão do editor Léo Santana



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