Hélio Schwartsman: O povo de Hitler – 12/10/2024 – Hélio Schwartsman
Não é porque a historiografia trata de eventos que já aconteceram e por definição não podem mais ser alterados que ela não avança. O aproximação a mais fontes, mudanças em perspectivas teóricas, além do desenvolvimento de novas tecnologias, permitem quando não recomendam a reinterpretação de fatos pregressos.
Em “Hitler´s People” (o povo de Hitler), Richard Evans tenta responder àquelas questões que não vão embora. Uma vez que os alemães, um dos povos mais instruídos da Europa, puderam concordar Hitler? Por que persistiram por tanto tempo nesse pedestal?
Evans toma uma vez que padrão obras consagradas sobre o nazismo, uma vez que as de Joachim Fest e Ian Kershaw, e se beneficia da buraco, nos anos 90, de arquivos soviéticos que lançaram novas luzes sobre velhas figuras. Esse material não provoca nenhuma reviravolta interpretativa, mas fornece detalhes importantes.
Evans tenta responder às questões seminais traçando perfis das figuras que tornaram o nazismo verosímil. E o faz em camadas. Começa com Hitler, continua com os paladinos (Göring, Goebbels, Röhm, Himmler, Von Ribbentrop, Rosenberg e Speer), passa a uma espécie de segundo escalão, no qual se destacam personagens uma vez que Heydrich, Streicher e Von Pappen, e conclui com o que labareda de “instrumentos”, pessoas que não tinham envolvimento profundo com a cúpula nazista, mas trabalharam em prol dessa ideologia, uma vez que a cineasta Leni Riefenstahl e o general Von Leeb.
O resultado são quase 600 páginas muito muito escritas e altamente informativas. Ficamos sabendo não somente o que os biografados fizeram nos anos sombrios do nazismo mas também uma vez que, em alguns casos, operaram para se livrar das responsabilidades. Speer, por exemplo, teve sucesso em fazer uma espécie de lavagem de seu pretérito nazista.
Evans também se beneficia do retiro temporal. Para os contemporâneos do nazismo e as primeiras gerações posteriores a ele era importante, por exemplo, tentar pintar Hitler uma vez que uma figura que de alguma forma não pertencia à humanidade. Hoje sabemos melhor do que humanos são capazes.
helio@uol.com.br
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