Infraestrutura brasileira:O que aprender com investimento? – 21/10/2024 – Shireen Mahdi

À medida que crescem, os países precisam aprimorar suas redes de transporte, energia e comunicações. Como realizar esses investimentos? Simultaneamente ou em sequência? Há sinergias possíveis? Dois estudos recentes do Banco Mundial sobre o Brasil trazem reflexões importantes.

Investimentos em infraestrutura são essenciais e podem ser muito produtivos se feitos corretamente. Infraestrutura é fundamental para o desenvolvimento, impactando a produtividade (como na eletrificação da produção) e o acesso aos mercados (transporte mais rápido e barato). Além disso, são necessários para a transição de economias agrárias para economias mais diversificadas, gerando mais oportunidades econômicas, elevando o padrão de vida e reduzindo a pobreza.

No entanto, o impacto dos investimentos em infraestrutura pode variar. Alguns municípios podem perder trabalhadores para o benefício de outros, ou o aumento da produtividade pode ser limitado pelo nível de qualificação dos trabalhadores locais.

O impacto também depende da boa complementaridade entre diversos projetos de infraestrutura. Por exemplo, locais com investimentos volumosos em eletricidade, mas pouca ligação de transporte, se beneficiarão pouco dos investimentos em infraestrutura energética. Portanto, é preciso alinhar estrategicamente as vantagens econômicas locais. No entanto, frequentemente, as decisões de investimento priorizam objetivos políticos em detrimento de resultados econômicos.

Um estudo sobre investimentos em infraestrutura no Brasil revela lições importantes. Primeiramente, as complementaridades são significativas. No Brasil, os investimentos em diferentes tipos de infraestrutura nem sempre foram bem coordenados. Nossa pesquisa mostra que o investimento conjunto em eletricidade e rodovias aumenta o PIB dos municípios entre 29% e 61%.

Em segundo lugar, grande parte dos benefícios do fornecimento de infraestrutura pode ter sido perdida devido à má alocação dos investimentos. Os motivos são diversos, incluindo baixa capacidade de planejamento, políticas regionais de equalização, descentralização fiscal, políticas de prevenção do desmatamento e a complexa economia política do fornecimento de infraestrutura. Seria necessária uma investigação mais aprofundada para entender os impactos de cada um desses motivos.

O estudo oferece ainda três lições importantes em termos de políticas públicas.

Primeira: os formuladores de políticas devem adotar uma metodologia estratégica no planejamento que considere as sinergias entre os diferentes tipos de infraestrutura e seus impactos na produtividade, nos mercados de trabalho e no PIB locais.

Segunda: os formuladores de políticas devem otimizar a alocação espacial e fiscal dos investimentos em infraestrutura. Priorizar regiões com maior potencial de crescimento econômico, alinhando investimentos às necessidades locais e condições econômicas, em vez de considerações políticas, utilizando metodologias objetivas e baseadas em dados.

Terceira: Priorizar investimentos com alto impacto na produtividade maximiza o uso eficiente de recursos públicos escassos, especialmente devido ao alto custo dos investimentos em infraestrutura e à limitação do espaço fiscal.


Esta coluna foi escrita em colaboração com os economistas sêniores do Banco Mundial, Cornelius Fleischhaker, Jevgenijs Steinbuks e Harris Selod, e o consultor Rafael Serrano Quintero.


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