SpaceX recupera primeiro estágio do Starship em 5º voo – 13/10/2024 – Ciência

Em uma janela magra de somente 30 minutos, a SpaceX conseguiu neste domingo (13) realizar mais um lançamento de seu superfoguete Starship —o quinto da série— e, pela primeira vez, recuperou o primeiro estágio num inédito pouso na própria plataforma de lançamento, em Starbase, instalação da companhia americana em Boca Chica, no Texas.

É difícil superestimar a realização. A recuperação do primeiro estágio é um passo principal para tornar o veículo rapidamente reutilizável, exigência para que ele possa viabilizar o retorno tripulado da Nasa à Lua ainda nesta dez, a partir da missão Artemis 3.

O voo ocorreu de congraçamento com o planejamento da empresa, que vinha enfrentando dificuldades para obter autorização da FAA (filial que regula voos comerciais de foguetes nos EUA). A entidade governamental chegou a declarar que a liberação para essa missão era esperada somente para o término de novembro, o que causou manifestações ácidas e públicas da SpaceX.

A FAA alegava mudanças no perfil de voo, com relação ao quarto lançamento, o que exigiria consulta a outras agências antes da liberação. A companhia de Elon Musk, por sua vez, alegava que as alterações eram pouco relevantes, já haviam sido contempladas nos estudos de impacto e não traziam prenúncio suplementar ao público ou ao meio envolvente.

A pressão, que veio acompanhada por apoios na indústria e no Congresso, deu perceptível, e a filial acabou acelerando o processo de licenciamento, autorizando o voo deste domingo. Mantendo a atitude debochada e descolada de uma empresa que já lançou um veículo ao espaço, a SpaceX lançou no sábado um pequeno videogame online do Starship, em que o usuário pode lançar e tentar restaurar o primeiro estágio do foguete. Durante o carregamento do jogo, aparece a mensagem “suspenso por aprovação regulatória”. Recreativo.

A decolagem ocorreu dentro da janela estipulada para voo, entre 9h e 9h30 (pelo horário de Brasília, duas horas antes em Boca Chica), e mais uma vez o maior foguete já construído no mundo entregou um desempenho dentro do esperado.

O primeiro estágio se separou com somente dois minutos e 41 segundos de voo, para um retorno controlado até a plataforma de lançamento. A empresa havia proferido que só tentaria o procedimento se tudo corresse de forma precisa nas manobras de retorno —no quarto voo, isso havia realizado, com uma margem de erro de meio centímetro, numa descida suave no oceano. Foi o que deu a crédito para uma tentativa de pouso na plataforma já no quinto voo, mesmo com o risco de danos à estrutura de lançamento.

A estratégia para restaurar com eficiência máxima o primeiro estágio do Starship, em contraste com o que a SpaceX já faz com seus foguetes Falcon 9, que pousam ou em plataformas adjacentes ou em balsas no mar, envolve o uso de uma espécie de garras gigantes, dispositivo que a empresa labareda de “Mechazilla”, uma vez que pinças, que seguram o foguete em processo final de frenagem em pleno ar, para depois colocá-lo exatamente na embocadura da plataforma.

Isso nunca havia sido tentado antes, e surpreende que seja demonstrado logo de face com um lançador do porte do Starship —só o primeiro estágio tem 70 metros de profundeza, o equivalente a um prédio de 25 andares. O veículo inteiro tem 120 metros.

Descendo exatamente no lugar de onde ele sobe, a estratégia de reúso se torna clara —caso não seja preciso fazer grande manutenção, basta reabastecê-lo e lançar novamente. Isso, todavia, é alguma coisa que a SpaceX ainda precisará provar.

A capacidade de fazer lançamentos em rápida sucessão é principal para os planos da empresa, que quer eventualmente colonizar Marte, e da Nasa, que pretende usar o Starship para missões tripuladas à superfície da Lua. Para viabilizar o programa Artemis, o segundo estágio do Starship (a espaçonave propriamente dita) precisará ser reabastecido em trajectória terrestre, talvez até duas dezenas de vezes, antes de partir para a Lua. A urgência de voos sucessivos se torna óbvia.

Ainda resta também provar essa capacidade de reabastecimento em trajectória, alguma coisa nunca feito nessa graduação antes. Mas sem incerteza um passo importantíssimo —talvez o mais difícil— tenha sido concluído neste domingo.



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