Diretor de A Herança sobre terror no Brasil: “Achando um lugar nosso”
O terror é um gênero que recebe novos filmes todos anos e que conta com uma vasta lista de representantes e sagas. No Brasil, é um estilo que faz parte do cinema nacional e tem representantes marcantes, como José Mojica Marins, mais conhecido como Zé do Caixão. Mas, seguindo tendência global, a cinematografia “horripilante” do país busca se reinventar.
No final deste 2024, João Cândido Zacharias lança A Herança, seu primeiro filme, após 10 anos de produção. O longa foi realizado ao lado da produtora Tatiana Leite e que tem os atores Diego Montez e Yohan Levy como protagonistas.
Em entrevista ao Metrópoles, Zacharias comentou sobre o “nascimento” e os avanços do gênero no Brasil. “A gente está achando um lugar muito nosso, que é muito rico. Acho que nos últimos 15 anos a gente pode dizer que está vivendo um… não é nem renascimento, é um nascimento ainda do terror brasileiro. A gente teve o Mojica, que é tipo o fundador, mas desde então a gente teve praticamente nada”, declarou.
O cineasta ainda lembrou de outros nomes da indústria, como Juliana Rojas, Marco Dutra, Anita Rocha da Silveira e Gabriela Amaral Almeida.
“Não sei se dá pra dizer que eles têm algo em comum, mas eles são muito brasileiros em suas formas. Acho que a gente tem um desafio, que é encontrar o público mais alargado do terror, que consome o produto estrangeiro, mas ainda não consome tanto os nossos filmes”, declarou.
A produtora Tatiana Leite explicou que A Herança tem características típicas do Brasil. “A brasilidade é tema também porque tem nesse reencontro da raiz do Thomas, está nessa descoberta do Beni e ao mesmo tempo é um filme que as pessoas fora do Brasil conseguem perceber várias nuances, essa coisa das tias, por exemplo”, declarou.
Terror focado na tensão
Na produção, Thomas (Diego Montez) deixou o Brasil muito cedo e mora em Berlim, na Alemanha, com o namorado francês Beni (Yohan Levy). O casal volta ao país verde e amarelo após a morte da mãe do jovem tupiniquim e se depara com uma casa na roça que pertencia a sua matriarca. Lá, ele encontra duas tias e é aí que o terror começa, já que coisas estranhas e sem explicação lógica começam a acontecer.
Apesar de entrar na categoria terror, A Herança não traz jumpscares, famosa característica dessas produções, e busca se fixar na tensão, que é intercalada com algo “mais tranquilo”. Esse sentimento vai ficando cada vez mais forte até chegar ao clímax.
“Eu acho que tem uma coisa que, às vezes, é até um embate nosso. A gente pode até querer uma coisa, mas o filme está pedindo outra. E não adianta a gente forçar, o filme que vai se impor sempre assim. Muito cedo a gente entendeu que era um filme muito mais de tensão do que de susto e de pulo”, declarou o diretor.
Entretanto, para que tudo funcione, é necessário que os atores também sigam o mesmo caminho e que estejam em perfeita harmonia. Os personagens de Diego e Yohan tiveram duas narrativas diferentes. Enquanto Thomas estava deslumbrado com a descoberta de sua família, Beni se preocupava com os enigmas do local.
Diego Montez explicou que é necessário um completo mergulho na trajetória dos personagens. Para isso, ficaram imersos em uma casa no Brasil, ambientando-se com os aspectos do filme e focados no que estavam.
Já Yohan, que também estreia no terror — ele já fez diversas outras produções, como Emily In Paris, da Netflix, por exemplo — descobriu que há dois grandes desafios no gênero. “Beni passa por vários graus de susto e é o único personagem que verdadeiramente é assustado”, pontuou.
Publicar comentário